São Paulo, domingo, 16 de dezembro de 2007

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

Miséria democrática

SÃO PAULO - Há muita especulação e poucas certezas acerca do impacto real da extinção da CPMF sobre a economia. O governo por ora refaz contas a fim de concluir seu pacote de redução de danos.
Enquanto na seara econômica, a despeito do que já se sabe sobre as intenções do Planalto, o ambiente ainda é de expectativa e de indefinições, formou-se em contrapartida, de modo quase instantâneo, um diagnóstico bem assertivo -quase eufórico- sobre o aspecto político da derrota imposta a Lula.
Com pequenas variações de conteúdo e estilo entre articulistas e meios de comunicação, proclama-se a vitória da democracia sobre o presidencialismo imperial; exalta-se a lição contra a falta de limites do governo petista; festeja-se a demonstração de independência do Legislativo e por aí "la nave va"...
É curioso esse entusiasmo. Ele rende homenagens ao enredo fantasioso urdido pelos "demos" do PFL, segundo os quais, vencida a batalha da CPMF, Lula colocaria a sua perpetuação no poder no centro da agenda política. Isso sempre foi falso, mas conveniente.
De resto, a idéia de que qualquer resistência a Lula se traduz em virtude republicana é tão tola e falaciosa quanto a pretensão do PT de que só ele possa promover a correção das injustiças sociais.
O Senado, esse templo da altivez contra a tirania, é o mesmo que acaba de absolver Renan e, ato contínuo, eleger Garibaldi presidente.
Não se deve, é claro, demonizar a oposição por ter exercido seu papel. Mas também não vamos dar ao voto de gente como Romeu Tuma e Mão Santa uma dignidade histórica que não tem. Nem fingir que o PSDB pensava no país quando disse não ao mecanismo de financiamento da saúde que ele próprio criou.
A derrota da CPMF revelou menos a força do que a nossa miséria democrática. Faltou capacidade de diálogo às lideranças responsáveis do Congresso para imprimir alguma racionalidade e espírito público ao debate. Demagogos, uni-vos!


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