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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Miséria democrática
SÃO PAULO - Há muita especulação e poucas certezas acerca do impacto real da extinção da CPMF sobre a economia. O governo por ora
refaz contas a fim de concluir seu
pacote de redução de danos.
Enquanto na seara econômica, a
despeito do que já se sabe sobre as
intenções do Planalto, o ambiente
ainda é de expectativa e de indefinições, formou-se em contrapartida,
de modo quase instantâneo, um
diagnóstico bem assertivo -quase
eufórico- sobre o aspecto político
da derrota imposta a Lula.
Com pequenas variações de conteúdo e estilo entre articulistas e
meios de comunicação, proclama-se a vitória da democracia sobre o
presidencialismo imperial; exalta-se a lição contra a falta de limites do
governo petista; festeja-se a demonstração de independência do
Legislativo e por aí "la nave va"...
É curioso esse entusiasmo. Ele
rende homenagens ao enredo fantasioso urdido pelos "demos" do
PFL, segundo os quais, vencida a
batalha da CPMF, Lula colocaria a
sua perpetuação no poder no centro da agenda política. Isso sempre
foi falso, mas conveniente.
De resto, a idéia de que qualquer
resistência a Lula se traduz em virtude republicana é tão tola e falaciosa quanto a pretensão do PT de
que só ele possa promover a correção das injustiças sociais.
O Senado, esse templo da altivez
contra a tirania, é o mesmo que acaba de absolver Renan e, ato contínuo, eleger Garibaldi presidente.
Não se deve, é claro, demonizar a
oposição por ter exercido seu papel.
Mas também não vamos dar ao voto
de gente como Romeu Tuma e Mão
Santa uma dignidade histórica que
não tem. Nem fingir que o PSDB
pensava no país quando disse não
ao mecanismo de financiamento da
saúde que ele próprio criou.
A derrota da CPMF revelou menos a força do que a nossa miséria
democrática. Faltou capacidade de
diálogo às lideranças responsáveis
do Congresso para imprimir alguma racionalidade e espírito público
ao debate. Demagogos, uni-vos!
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