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CLÓVIS ROSSI
A indigência da reforma
SÃO PAULO - O ministro José Dirceu introduziu ontem no noticiário a primeira informação menos degradante
em torno da reforma ministerial. Diz
Dirceu que o presidente pode fazer
uma mera reforma ministerial ou
uma reforma também administrativa, de forma a dar mais eficiência a
ação do governo.
Até agora, o noticiário em torno da
mudança de nomes no gabinete Lula
girou em torno de fisiologia pura.
Ora tratava-se de contemplar o
PMDB -não pela alta qualidade
dos quadros que o partido supostamente tem, mas para ter mais segurança a respeito dos votos peemedebistas no Congresso.
Em outro momento, dizia-se que o
ministro Olívio Dutra poderia continuar à frente de Cidades não porque
sua gestão tenha ganhado algum
prêmio internacional de qualidade
(ou mesmo um prêmio nacional, estadual, municipal, de bairro que seja), mas porque, em sendo petista e
em tendo o ministério verbas para as
cidades, poderia beneficiar candidatos do PT na eleição municipal.
É até possível que esse tom para o
noticiário em torno da reforma seja
culpa da imprensa. Mas parece razoável supor que, tivesse o governo
outro tipo de preocupações na cabeça, elas acabariam por surgir no noticiário. Não surgiram nem mesmo na
nota oficial em que Lula condenou o
que chamou de "especulações".
A indigência da racionalidade que
guia a reforma é eloquente a respeito
do "new PT", antigamente um feroz
crítico do modelo "é dando que se recebe". Agora, ninguém nem mesmo
se surpreende com o fato de que o
partido passou a discutir a composição ministerial a partir dos mesmos
critérios fisiológicos que marcaram
outras administrações.
O que espanta no fato de José Dirceu ter introduzido um tiquinho de
decência na questão é que ele próprio
admite estar em dúvida sobre qual
será, enfim, o tipo de reforma que Lula adotará. Diz tudo sobre a "rationale" do governo.
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