São Paulo, sábado, 17 de janeiro de 2004

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CLÓVIS ROSSI

A indigência da reforma

SÃO PAULO - O ministro José Dirceu introduziu ontem no noticiário a primeira informação menos degradante em torno da reforma ministerial. Diz Dirceu que o presidente pode fazer uma mera reforma ministerial ou uma reforma também administrativa, de forma a dar mais eficiência a ação do governo.
Até agora, o noticiário em torno da mudança de nomes no gabinete Lula girou em torno de fisiologia pura. Ora tratava-se de contemplar o PMDB -não pela alta qualidade dos quadros que o partido supostamente tem, mas para ter mais segurança a respeito dos votos peemedebistas no Congresso.
Em outro momento, dizia-se que o ministro Olívio Dutra poderia continuar à frente de Cidades não porque sua gestão tenha ganhado algum prêmio internacional de qualidade (ou mesmo um prêmio nacional, estadual, municipal, de bairro que seja), mas porque, em sendo petista e em tendo o ministério verbas para as cidades, poderia beneficiar candidatos do PT na eleição municipal.
É até possível que esse tom para o noticiário em torno da reforma seja culpa da imprensa. Mas parece razoável supor que, tivesse o governo outro tipo de preocupações na cabeça, elas acabariam por surgir no noticiário. Não surgiram nem mesmo na nota oficial em que Lula condenou o que chamou de "especulações".
A indigência da racionalidade que guia a reforma é eloquente a respeito do "new PT", antigamente um feroz crítico do modelo "é dando que se recebe". Agora, ninguém nem mesmo se surpreende com o fato de que o partido passou a discutir a composição ministerial a partir dos mesmos critérios fisiológicos que marcaram outras administrações.
O que espanta no fato de José Dirceu ter introduzido um tiquinho de decência na questão é que ele próprio admite estar em dúvida sobre qual será, enfim, o tipo de reforma que Lula adotará. Diz tudo sobre a "rationale" do governo.


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