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IGOR GIELOW
O avião do presidente
BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já disse que um dos prazeres do cargo é a possibilidade de
viajar muito. Nada mais lógico então
que ele queira amplificar esse prazer
com um avião moderno, confortável
e que não lhe cause "embaraços" ao
voar pelo mundo -usando as palavras do ministro Guido Mantega
(Planejamento) ao anunciar a escolha do luxuoso Airbus-ACJ para
substituir o velho Boeing-707 da Presidência, codinome "Sucatão".
Argumentação classe média à parte, há um debate sério a ser feito sobre
a necessidade de um avião exclusivo
para o presidente. Há dois aspectos,
um econômico e outro técnico, para
amparar um veredicto político.
No primeiro ponto, a principal crítica é a de que os US$ 56,7 milhões,
fora manutenção, poderiam ser empregados de outra forma num lugar
pobre como o Brasil. Tipo alimentar
criancinhas miseráveis, algo assim. É
uma visão demagógica, de curto alcance, mas não pode ser desprezada
dentro da realidade do país.
Dentro dessa lógica, talvez a opção
por um fretamento fosse melhor. O
esquema feito com a TAM no fim do
governo FHC custou R$ 3,3 milhões
anuais. Repetidas as condições, o preço do ACJ bancaria cerca de 50 anos
de fretamento. O problema é que o
negócio quase foi rompido pela TAM,
que o achou ruim. E há sempre o correto argumento de que avião próprio
é mais seguro, confortável e "nobre".
Mas o fato é que Lula está aproveitando sua força política e alta popularidade para fazer coisas que, em
outros tempos, seriam consideradas
barbarismos inaceitáveis.
Do lado técnico, a FAB sustenta que
o "Sucatão" poderia voar mais 20
anos. Isso é verdade, mas os militares
falavam a mesma coisa quando pegou fogo uma turbina do modelo que
levava Marco Maciel em 99. A posição ficou insustentável.
É óbvio que o presidente tem de
voar nas melhores condições possíveis. O governo assumiu o ônus de fazê-lo gastando bastante dinheiro.
Resta saber, lá na frente, qual será o
efeito político da compra.
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