São Paulo, sábado, 17 de janeiro de 2004

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IGOR GIELOW

O avião do presidente

BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já disse que um dos prazeres do cargo é a possibilidade de viajar muito. Nada mais lógico então que ele queira amplificar esse prazer com um avião moderno, confortável e que não lhe cause "embaraços" ao voar pelo mundo -usando as palavras do ministro Guido Mantega (Planejamento) ao anunciar a escolha do luxuoso Airbus-ACJ para substituir o velho Boeing-707 da Presidência, codinome "Sucatão".
Argumentação classe média à parte, há um debate sério a ser feito sobre a necessidade de um avião exclusivo para o presidente. Há dois aspectos, um econômico e outro técnico, para amparar um veredicto político.
No primeiro ponto, a principal crítica é a de que os US$ 56,7 milhões, fora manutenção, poderiam ser empregados de outra forma num lugar pobre como o Brasil. Tipo alimentar criancinhas miseráveis, algo assim. É uma visão demagógica, de curto alcance, mas não pode ser desprezada dentro da realidade do país.
Dentro dessa lógica, talvez a opção por um fretamento fosse melhor. O esquema feito com a TAM no fim do governo FHC custou R$ 3,3 milhões anuais. Repetidas as condições, o preço do ACJ bancaria cerca de 50 anos de fretamento. O problema é que o negócio quase foi rompido pela TAM, que o achou ruim. E há sempre o correto argumento de que avião próprio é mais seguro, confortável e "nobre".
Mas o fato é que Lula está aproveitando sua força política e alta popularidade para fazer coisas que, em outros tempos, seriam consideradas barbarismos inaceitáveis.
Do lado técnico, a FAB sustenta que o "Sucatão" poderia voar mais 20 anos. Isso é verdade, mas os militares falavam a mesma coisa quando pegou fogo uma turbina do modelo que levava Marco Maciel em 99. A posição ficou insustentável.
É óbvio que o presidente tem de voar nas melhores condições possíveis. O governo assumiu o ônus de fazê-lo gastando bastante dinheiro. Resta saber, lá na frente, qual será o efeito político da compra.


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