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CLÓVIS ROSSI
A fraude está completa
MADRI - Um pouco de ajuda-memória antes de chegar ao tema central:
no caso do assassinato do prefeito
Celso Daniel, que era o coordenador
do programa de governo de Luiz Inácio Lula da Silva, a família do morto
diz e repete que o crime está ligado à
corrupção na Prefeitura de Santo André, da qual se beneficiariam as campanhas eleitorais do PT.
A acusação nunca obteve grande
sucesso de público, talvez porque prevalecia, até a semana passada, uma
difusa, mas generalizada, sensação
de que o PT era diferente, quase imune à corrupção.
Agora, a suspeita é a mesma: uma
baita maracutaia para financiar
candidaturas regionais do PT (Benedita da Silva, no Rio, e Geraldo Magela, no Distrito Federal). Mas, ao
contrário do caso Celso Daniel, todo
mundo acredita, em parte porque as
evidências são contundentes, em parte porque a imagem de "farinha do
mesmo saco" começa a colar no PT
(aliás, com toda a justiça).
Nesse ambiente, a pergunta que
ainda não foi feita é esta: se Waldomiro Diniz era homem de confiança
e até companheiro eventual de residência de José Dirceu, que, por sua
vez, era presidente nacional do PT no
momento da maracutaia, não é justo
desconfiar que a arrecadação criminosa de recursos tenha servido também à campanha nacional em vez de
circunscrever-se a dois Estados?
Se é assim, o cordão de isolamento
que o PT está tentando estender em
torno de Dirceu visa, na verdade,
muito mais ao próprio Lula.
Para isso, o partido renuncia ao
pouco que lhe restava, o "patrimônio
simbólico do petismo, que é a sua
imagem ética", para usar expressão
de editorial desta Folha.
Antes, renunciara a uma política
econômica petista ou, pelo menos,
mudancista, ao contrário do prometido na campanha eleitoral e no discurso de posse.
Está sendo também incapaz de pôr
de pé uma política social. Agora,
abraça-se aos suspeitos de sempre no
Congresso. A fraude está completa.
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