|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELIANE CANTANHÊDE
Triângulos não tão amorosos
BRASÍLIA - Primeiro triângulo: um mesmo bicheiro, o tal Carlinhos Cachoeira, tinha o pé em três unidades
da federação comandadas pelo PT
-o Rio Grande do Sul, o Rio e o DF.
Como revelou o repórter Rubens
Valente, ontem na Folha, o grupo de
Cachoeira toca o negócio de loterias
no Rio Grande do Sul desde o governo Olívio Dutra, hoje ministro. Lembre-se que o maior escândalo gaúcho
daquela época acabou numa CPI estadual. Justamente a CPI do Bicho.
E foi Cachoeira, em carne e osso,
quem apareceu no vídeo negociando
com Waldomiro Diniz grana para a
campanha de Benedita (PT) e de Rosinha (à época PSB) no Rio. Escancarado o vídeo, o que Waldomiro diz?
Que uma parte era para a campanha
de Geraldo Magela (PT) no DF.
Segundo triângulo: a empresa oficial do bicheiro em Anápolis (GO)
chama-se Capital Engenharia e Limpeza -ou seja, atua, ou diz atuar, no
ramo do lixo. E as três pedras no sapato do PT são exatamente lixo,
transporte e bicho. Até por isso, e por
pura maldade oposicionista, já tem
gente achando que essa confusão toda pode desaguar em outros redutos
do PT. Até em São Paulo.
Terceiro triângulo: o governo do PT
está se agarrando a José Sarney
(PMDB) e a ACM (PFL) para evitar
uma CPI. Taí um trio bem curioso
-e nada amoroso.
Se eu defendo uma CPI agora? Não,
não defendo. Tecnicamente: as negociatas com o bicheiro foram em 2002,
antes do governo Lula, quando Waldomiro não tinha cargo nenhum no
Planalto. Politicamente: seria dramático. Um governo no início do segundo ano, desemprego alto, economia incerta e o Congresso parado...
O que, evidentemente, não significa
abafar. Apenas há outros mecanismos de investigação além de CPIs, e
eles não estão só no governo. Há o
Ministério Público, as polícias, a sociedade, a imprensa. Que se apurem
todos os triângulos, doa a quem doer,
seja um mero gandula ou o "capitão
do time" (Dirceu, segundo Lula).
Com ou sem CPI, o maior interessado
na verdade deve ser o PT. Ou não?
Texto Anterior: Madri - Clóvis Rossi: A fraude está completa Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: 1% Índice
|