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CARLOS HEITOR CONY
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RIO DE JANEIRO - No auge do escândalo que provocou o impedimento de
Collor, o que mais me impressionou
foi a rapidez e a eficiência com que as
movimentações das contas bancárias
do presidente e de seus auxiliares
mais próximos foram parar na imprensa e na CPI.
Dizia-se, na ocasião, que era trabalho miúdo, trabalho de formiga da
militância do PT, que tinha (e parece
que ainda tem) enorme rede de informantes e interessados em rastrear
contas de adversários, sejam circunstâncias ou substanciais.
Com as revelações do mais recente
abalo sísmico no centro do poder, ficamos sabendo que um funcionário
altamente categorizado na nomenclatura do atual governo foi peça importante no rastreamento de contas
que, teoricamente, estariam resguardadas pelo sigilo bancário, que só é
sigilo quando interessa a quem precisa dele.
Não freqüento a turma que fica escandalizada com revelações de natureza igual. Nunca reconheci no PT o
monopólio da moral e da verdade. E,
para ser sincero, em nenhum outro
partido, instituição ou pessoa.
Enquanto prevalecer a hipocrisia
dos financiamentos das campanhas
eleitorais, casos como o atual serão
corriqueiros, um ventilador eficiente,
capaz de jogar aquilo em todos e em
tudo.
O abacaxi será descascado, por
conveniência política de todos os partidos, de todos os candidatos -eleitos ou não. Compreende-se. Mas, desta vez, como no clichê dos roteiristas
de cinema policial, a coisa foi longe
demais.
Simplificando a questão, admite-se
que, durante as campanhas eleitorais, todos os partidos e candidatos
busquem patrocínios -e dinheiro,
como dizia o imperador Vespasiano,
"non olet", não fede.
Mas começa a feder quando os intermediários entre os candidatos e os
patrocinadores cobram 1% do preço
global da operação.
Quando se trata de gente miúda,
até que a comissão é banal. Mas,
quando se tratou das privatizações
do governo anterior, o preço dos favores foi bem superior.
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