São Paulo, quinta-feira, 17 de fevereiro de 2005

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CARLOS HEITOR CONY

Obras-primas

RIO DE JANEIRO - A editora Record e a escritora Heloísa Seixas realizaram um dos meus sonhos: ver em livro alguns dos trabalhos publicados na revista "Manchete", durante cinco anos, de 1972 a 1977, sob o título, instigante é certo, mas errado, "As obras-primas que poucos leram".
Errado porque na relação aparecem livros mais do que lidos, como "Memórias Póstumas de Brás Cubas", "Os Maias", "O Sol também se Levanta" e outros. O título, dado por Justino Martins, é apelativo, apenas isso. A finalidade da série era divulgar alguns dos livros mais importantes da literatura universal.
Havia um esquema para cada artigo: a biografia do autor; a história contada ou o tema abordado em cada livro; um resumo crítico da obra. Foram mais de 200 artigos assinados por autores de peso: Antônio Houaiss, Paulo Mendes Campos, Ledo Ivo, Ruy Castro, R. Magalhães Jr., Josué Montello, Joel Silveira, José Lino Grunewald e, principalmente, Otto Maria Carpeaux, campeão absoluto da série.
Aliás, foram as últimas colaborações do grande ensaísta para a imprensa brasileira. Seus últimos artigos, escritos pouco antes de sua morte, foram de caráter autobiográfico, que tive a ousadia de exigir dele e a alegria de publicar.
A seleção feita por Heloísa é de apenas 70 obras, e a editora não teve acesso ao material iconográfico que acompanhava cada artigo. Uma pena. Sobretudo quando a obra em questão pertencia ao fosso dos "que poucos leram", como "Bubu de Montparnasse", de Charles-Louis Philippe, ou "Viagem ao Fim da Noite", de Louis-Ferdinand Céline.
Espero que a Record e Heloísa completem a série, dando preferência sobretudo aos livros que justificam o título dado pelo Justino, como "O Grande Meaulne", de Alain Fournier, "Os Ratos", de Dionélio Machado, e tantos outros. Mesmo assim, como está, cumpre um papel que transcende a divulgação do mundo das letras, mas é, em si mesmo, uma referência literária.


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