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FERNANDO DE BARROS E SILVA
PT saudações
SÃO PAULO - Nos dias que correm, não é comum ver um petista
contrariado. Estão em geral muito
satisfeitos. Exibem um pragmatismo confiante e despido de autocríticas, um ar triunfalista como nunca antes neste país. Costumam tratar adversários como inimigos do
Brasil. São os efeitos da popularidade de Lula, agravados, no caso, pela
velha convicção da esquerda de que
tem a chave da história.
Chama ainda mais atenção, por
isso, o tom de desconforto e desabafo da entrevista que o deputado José Eduardo Cardozo concedeu ontem ao jornal "Valor Econômico".
Ele diz que não vai concorrer à
reeleição na Câmara porque "perdeu a paciência": "As coisas não só
não se alteram como se agravam.
(...) O que determina a vitória? Em
larga medida é o dinheiro. Na disputa passada, minha campanha
custou R$ 1,5 milhão. É um absurdo. Não tive problema com a Justiça, mas acho que foi até por acaso".
Mais adiante, Zé Eduardo diz que
filhos de parlamentares costumam
esconder tal fato de colegas para
não ouvir na escola: "Seu pai é ladrão". E acrescenta: "Você vai a um
jogo de futebol e pessoas ficam gritando mensalão, mensalão!".
A conclusão a que ele chega: "Sairão aqueles que querem ter ética na
política e não sabem mais como
operar". Operar?
Zé Eduardo também parece não
saber como "operar" seus paradoxos. Resvala para uma franqueza
incomum quando diz que "as relações com os doadores são muito
problemáticas". Mas recua quando
sugere que os políticos são reféns e
vítimas de um sistema perverso, ao
mesmo tempo em que se esmera na
defesa dos companheiros João Vaccari e José Dirceu.
Zé Eduardo é um feixe de contradições. Abandona a disputa eleitoral contaminada, mas permanece à
frente do segundo cargo na hierarquia do PT. Repele as atuais regras
do jogo, mas dobra a aposta no partido. O mesmo partido que "democratizou" o vale-tudo no poder.
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