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FERNANDO RODRIGUES
Regras inúteis
BRASÍLIA - O governo soltou ontem uma versão atualizada de sua
cartilha de conduta para funcionários públicos durante anos eleitorais. Na interpretação da Advocacia-Geral da União, a pré-candidata
do PT, Dilma Rousseff, poderá
comparecer a qualquer evento do
governo depois de 3 de abril, pois
não ocupará mais um cargo na
administração pública.
Essa situação vigorará até o final
de junho, quando Dilma for nomeada oficialmente candidata. Depois
está proibida de comparecer a cerimônias oficiais. A regra vale para
todos os políticos em condição correlata. José Serra também poderá
participar de atos do governo de
São Paulo quando não estiver mais
à frente do Estado. Esse período de
limbo legal de três meses é a nova
anomalia criada pelo Congresso, na
reforma eleitoral aprovada do ano
passado.
Antes não era assim. Jackson Lago (PDT) perdeu a cadeira de governador do Maranhão porque durante a fase de pré-campanha apareceu
em eventos públicos junto com o
seu antecessor.
A mudança rotineira de regras é
um câncer do sistema político brasileiro. Cada nova alteração só beneficia quem já está no poder. Vigora uma completa assimetria também quando se interpreta o que faz
um candidato a presidente na comparação com um pobre diabo de um
Estado mais longínquo.
Esse tipo de discussão é brasileira
como a jabuticaba. Em alguns países desenvolvidos, como os EUA,
trata-se de um não assunto. No Brasil, há uma obsessão com a presença
do Estado. O governo é o nhonhô
que dá votos. Os políticos vão alterando a lei a cada eleição para tentar tirar o melhor proveito.
Leis são inúteis nessa área. O
combustível dos desvios é a cultura
política baseada na estadolatria.
Não há caso de brasileiro deixando
de votar num candidato porque
houve suspeita de uso da máquina
pública. Se o eleitor não reprova os
abusos, quem então o fará?
fernando.rodrigues@grupofolha.com.br
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