São Paulo, quinta-feira, 17 de maio de 2001

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MENOS FLORESTAS

Ao contrário do "estancamento" que o Ministério do Meio Ambiente chegou a comemorar, cresce o ritmo de desmatamento na Amazônia. Segundo levantamento do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), a área desflorestada cresceu 15% de agosto de 1999 a agosto de 2000 em relação aos 12 meses anteriores. São 19.832 quilômetros quadrados, quase o equivalente a Sergipe (22.050 km2).
O desmatamento acumulado na Amazônia era de 13,9% em 1999. Para 2000, dados ainda preliminares sugerem uma área devastada de 14,3%. Projeção do Fundo Mundial da Natureza (WWF) indica que, se forem mantidos os atuais níveis anuais de degradação, em menos de dez anos a Amazônia perderá o equivalente a um Acre (153.149 km2).
Para piorar, a bancada ruralista pretende aprovar leis que, na prática, reduzem as áreas de reserva legal na floresta. O programa "Avança Brasil", do governo federal, prevê obras de infra-estrutura que teriam impacto negativo sobre a vegetação. Estudo da ONG Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) publicado em 2000 indica que, se todas as estradas do plano fossem pavimentadas ou construídas, a Amazônia perderia 180 mil quilômetros quadrados de florestas em duas ou três décadas.
É importante trabalhar com números para conhecer a dimensão do problema. Mas é importante acima de tudo desenvolver uma política para a Amazônia. Conservar florestas é fundamental, mas não serão fiscalização nem leis de reserva legal que, sozinhas, impedirão o desmatamento, sobretudo pela quase impossibilidade de impor seu cumprimento, numa área de 4 milhões de km2.
Enquanto não surgirem alternativas de desenvolvimento sustentável para a região, a tendência é que a floresta sucumba a interesses econômicos imediatistas. É preciso, portanto, fazer com que o interesse econômico esteja em preservar a floresta, o que só se conseguirá com políticas consistentes para as várias áreas que compõem a região. É essa a discussão que está faltando. Enquanto ela não ocorrer, a cada ano haverá sempre menos florestas.



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