São Paulo, quinta-feira, 17 de maio de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELIANE CANTANHÊDE

ACM, a ilha

BRASÍLIA - O tempo, as circunstâncias e os senadores estão fechando o cerco contra ACM, que ontem colecionou derrotas:
1) No Conselho de Ética, o relatório do senador Saturnino Braga (PSB-RJ) foi implacável, sem concessões, pedindo a cassação. E será decidido na semana que vem por voto aberto. É o voto para a opinião pública. Ou seja, o pior inimigo de ACM.
2) Na Bahia, sai a foto do abraço de Zélia Gattai e de Gal Costa no velho cacique e entra a do confronto da estudantada com a polícia. Uma imagem envolta em gás lacrimogêneo e em um certo ar do passado que só piora o ânimo popular contra ACM.
3) No Congresso em geral, o clima era pela cassação e, curiosamente, não havia constrangimento ou tristeza, como seria natural. Sem querer ser sádica, era quase de alegria. Os petistas se abraçavam. O presidente do Conselho de Ética, Ramez Tebet, desfilava de mesa em mesa no restaurante, comemorando.
4) Se há um "acordão" entre FHC e ACM, como diz o PT e adivinham os que prestam serviço ao cacique baiano, ele ainda não deu as caras. FHC antes dizia que iria lavar as mãos. Agora, estimula aliados a favor da cassação e manda o porta-voz dizer que o Congresso é soberano. Mais ou menos assim: cumpra-se o destino.
5) No PMDB, há dois grupos: os que articularam ou defenderam o voto aberto, como Tebet e o líder Renan Calheiros, e os que não mexeram uma palha por ACM e mal disfarçavam o prazer, como Jader Barbalho.
6) O próprio ACM, que já era a imagem da derrota, como bem registrou a Folha ontem, agora começa também a falar e a agir como derrotado. Primeiro, admitiu a renúncia. Depois, disse que jamais fez isso. Mas as câmeras de TV não mentem.
O processo de cassação ganhou uma dinâmica própria, ditada pela opinião pública. Os adversários de ACM botaram as asinhas de fora. Os aliados minguaram. Os contrários à cassação calaram. O PFL e ACM ficaram falando sozinhos.



Texto Anterior: São Paulo - Clóvis Rossi: Liberal ou incompetente?
Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: É fácil governar o Brasil
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.