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CARLOS HEITOR CONY
É fácil governar o Brasil
RIO DE JANEIRO - Mussolini dizia que governar os italianos não era difícil: era inútil. Teve tempo para saber que tinha razão. Foi pendurado
de cabeça para baixo numa praça em
Milão.
Um certo presidente que conhecemos, não faz muito tempo, declarou
que era fácil governar o Brasil. É possível que agora ele jure que nunca
disse isso. Mas deveria repetir a sua
declaração, pois demonstra diariamente a moleza de sua função.
Impede a CPI sobre a corrupção nos
diversos escalões do poder. Reúne o
ministério e no dia seguinte consegue
abafar a investigação.
Deveria ter ensinado esse macete a
Getúlio Vargas e a Fernando Collor.
Esses não impediram a investigação:
um deles se suicidou, o outro sofreu
impeachment.
Não bastando a eficiência com que
agiu, o presidente da República, após
seis anos de governo em que sempre
obteve maioria no Congresso e na
maior parte da mídia, vem a público
dizer que ignorava o problema da
energia. Logo a culpa não é dele nem
de sua equipe.
Não sendo dele nem de seus auxiliares, a culpa deve ser do teimoso
Itamar Franco, do leviano Lula, do
sestroso ACM. Da avó de todos nós.
Se o presidente tivesse usado seu famoso poder de persuasão, sua visão
de déspota esclarecido, ele teria conseguido, num único expediente, no
início de seu primeiro mandato, recursos suficientes para aumentar a
oferta de energia num país que, apesar dele, cresce todos os dias.
A mesma capacidade que revelou
para descolar a emenda constitucional que lhe abriu caminho para um
novo mandato, ou para torpedear
qualquer medida legislativa que
apurasse os escândalos da vida pública, poderia ser usada para impedir a
crise que ameaça a indústria, o comércio e a vida de cada um de nós.
Ele é inocente. Simplesmente não
sabia.
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