São Paulo, quinta-feira, 17 de maio de 2001

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CARLOS HEITOR CONY

É fácil governar o Brasil

RIO DE JANEIRO - Mussolini dizia que governar os italianos não era difícil: era inútil. Teve tempo para saber que tinha razão. Foi pendurado de cabeça para baixo numa praça em Milão.
Um certo presidente que conhecemos, não faz muito tempo, declarou que era fácil governar o Brasil. É possível que agora ele jure que nunca disse isso. Mas deveria repetir a sua declaração, pois demonstra diariamente a moleza de sua função.
Impede a CPI sobre a corrupção nos diversos escalões do poder. Reúne o ministério e no dia seguinte consegue abafar a investigação.
Deveria ter ensinado esse macete a Getúlio Vargas e a Fernando Collor. Esses não impediram a investigação: um deles se suicidou, o outro sofreu impeachment.
Não bastando a eficiência com que agiu, o presidente da República, após seis anos de governo em que sempre obteve maioria no Congresso e na maior parte da mídia, vem a público dizer que ignorava o problema da energia. Logo a culpa não é dele nem de sua equipe.
Não sendo dele nem de seus auxiliares, a culpa deve ser do teimoso Itamar Franco, do leviano Lula, do sestroso ACM. Da avó de todos nós.
Se o presidente tivesse usado seu famoso poder de persuasão, sua visão de déspota esclarecido, ele teria conseguido, num único expediente, no início de seu primeiro mandato, recursos suficientes para aumentar a oferta de energia num país que, apesar dele, cresce todos os dias.
A mesma capacidade que revelou para descolar a emenda constitucional que lhe abriu caminho para um novo mandato, ou para torpedear qualquer medida legislativa que apurasse os escândalos da vida pública, poderia ser usada para impedir a crise que ameaça a indústria, o comércio e a vida de cada um de nós.
Ele é inocente. Simplesmente não sabia.


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