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A VOZ DO POVO
Pesquisas divulgadas na semana passada mostram que a ampla maioria dos norte-americanos
(quase 80%) está disposta a sacrificar
algumas liberdades e direitos civis
em troca de segurança. "A voz do povo é a voz de Deus", diriam alguns.
Só que esse adágio é possivelmente
um dos mais mal citados da história.
Até onde se sabe, o primeiro a empregar a expressão "vox populi, vox
Dei" foi o hoje obscuro teólogo inglês Alcuíno (c. 735-804): "Não devem ser ouvidos aqueles que ficam
dizendo que a voz do povo é a voz de
Deus, pois a impetuosidade da massa está sempre próxima da insânia".
Ao que parece, o governo do presidente George W. Bush está sabendo
utilizar em seu favor os temores da
população. Desde o 11 de setembro,
o Executivo tomou poderes que deveriam, em tese, ser compartilhados
com Legislativo e Judiciário. Valendo-se de leis antigas ou de brechas
jurídicas, a Casa Branca, sem ouvir o
Congresso, anunciou que poderá julgar em tribunais militares membros
do Taleban e da Al Qaeda capturados. Também autorizou agentes federais a fazer espionagem doméstica
e aniquilou os poucos direitos de que
gozavam imigrantes ilegais.
A utilidade dessas medidas no
combate ao terror é difícil de avaliar.
Por maior que seja o aparato de segurança, o Estado jamais poderá garantir que não ocorrerão ataques terroristas. Já a renúncia a direitos diz respeito ao âmago da democracia. Além
da expressão da vontade da maioria,
a democracia é a preservação de direitos de minorias ou de indivíduos.
"Quem joga fora a liberdade essencial para obter uma pequena segurança não merece nem liberdade
nem segurança". Essa frase não é de
nenhum teólogo obscuro do século
8º, mas de Benjamin Franklin, um
dos patriarcas dos EUA.
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