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VINICIUS TORRES FREIRE
Os demônios vermelhos
SÃO PAULO - Não, não se trata do time da Bélgica, que, esperamos, terá
sido despachado pelo maior risco
Brasil de hoje, o time de Scolari. Os
vermelhos demonizados aqui são do
PT, que, antes mesmo do primeiro
turno, já é culpado de "transformar o
Brasil numa Argentina", seja lá o que
isso signifique (que os brasileiros vão
ler tantos livros e comer tanto como
os argentinos, por exemplo?).
É verdade que a difamação tem
melhorado de nível, por assim dizer.
Em 1989, Lula da Silva eleito, a classe
média teria de dividir suas posses, inclusive casas, e os empresários todos
dariam o fora do país. Lula, aliás,
morava no Morumbi por essa época.
É verdade também que o PT largou
parte do besteirol econômico de 1989.
Mas, quanto mais o programa do PT
fica "consistente", mais é culpado pela sinistra dívida de Pedro Malan e
FHC ("consistente" entre aspas, como os economistas dizem, um falso
cognato do inglês "consistent", que,
no caso, quer dizer coerente ou compatível. Já ouvi Malan dizer "reinforçar" em vez de reforçar).
Decerto a crise financeira muito
tem a ver com o medo do mercado na
hora do pênalti, quer dizer, com trocas de governo em geral e com a vitória de Lula em particular.
Mas a crise tem a ver ainda com a
desconfiança dos mercados em relação à América Latina, com a aversão
deles a assumir riscos em época de calote de grandes empresas americanas, com a dívida enorme, crescimento baixo e exportações minúsculas do Brasil. Até membros estrangeiros da casta econômica mundializada, da qual fazem parte os economistas de FHC, dizem que pode vir calote
quem quer que seja o eleito (um absurdo, mas não é o ponto). Mas o antipetismo joga nas costas de Lula oito
anos de incúria financeira.
Vai piorar. O "jingle" de José Serra
diz que o Brasil não vai "ser outra
Argentina" (quer dizer, com os outros candidatos, vai). O PT ainda tem
muito o que explicar sobre o que fará
da dívida, decerto. Mas Serra, o governista, também tem de explicar
que país é este que o seu partido vai
entregar ao próximo governo. Por
ora, ele só cala sobre o assunto.
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