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CARLOS HEITOR CONY
O brasileiro intranquilo
RIO DE JANEIRO - Na semana passada, o presidente da República receitou tranquilizantes -um genérico
bem ao gosto do Ministério da Saúde- para combater a febre que tomou conta do mercado. Bom discípulo ou bom cliente, o candidato José
Serra embarcou na medicação, assinou embaixo e aconselhou que ninguém investisse no dólar.
Não chega a ser tranquilizante
quando o governo, por meio de seu
chefe executivo e de seu candidato
oficial, recomenda moderação no
apetite pela moeda norte-americana.
É o tipo de declaração a que equivalem os pronunciamentos de que "reina ordem em todo o país" -senha
clássica adotada pelos militares em
épocas de convulsões institucionais.
O conselho do candidato e a receita
do presidente revelam que a situação,
ao fim de oito anos de governo tucano, não atingiu o paraíso do possível.
Pelo contrário. O risco Brasil subiu de
976 para mais de 1.300 pontos, os juros continuam entravando o desenvolvimento nacional e, mais uma
vez, descobre-se que o brasileiro é o
povo mais sobrecarregado de impostos na face da Terra.
Um flash da CNN, na madrugada
de sábado, mostrou que a situação do
Brasil caminha celeremente para
uma crise igual à da Argentina -ou
maior do que ela.
São dados técnicos, que não entendo direito, mas as imagens que a
CNN mostrou são bem parecidas
com as de Buenos Aires. Um economista anônimo, em entrevista relâmpago, diz que, no Brasil, o litro de leite paga imposto igual ao da garrafa
de champanhe importada. Não sei se
é verdade, mas a concentração de
renda não foi feita por obra e graça
do Espírito Santo.
Ela foi montada e está sendo operada por práticas e por entidades nada
santas e tem no governo neoliberal de
FHC o eixo que faltava a outros governos, que concentravam a renda
artesanalmente, e não tecnicamente.
Os brasileiros intranquilos não investirão no dólar. Somente os tranquilos poderão fazer isso.
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