São Paulo, segunda-feira, 17 de junho de 2002

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CARLOS HEITOR CONY

O brasileiro intranquilo

RIO DE JANEIRO - Na semana passada, o presidente da República receitou tranquilizantes -um genérico bem ao gosto do Ministério da Saúde- para combater a febre que tomou conta do mercado. Bom discípulo ou bom cliente, o candidato José Serra embarcou na medicação, assinou embaixo e aconselhou que ninguém investisse no dólar.
Não chega a ser tranquilizante quando o governo, por meio de seu chefe executivo e de seu candidato oficial, recomenda moderação no apetite pela moeda norte-americana. É o tipo de declaração a que equivalem os pronunciamentos de que "reina ordem em todo o país" -senha clássica adotada pelos militares em épocas de convulsões institucionais.
O conselho do candidato e a receita do presidente revelam que a situação, ao fim de oito anos de governo tucano, não atingiu o paraíso do possível. Pelo contrário. O risco Brasil subiu de 976 para mais de 1.300 pontos, os juros continuam entravando o desenvolvimento nacional e, mais uma vez, descobre-se que o brasileiro é o povo mais sobrecarregado de impostos na face da Terra.
Um flash da CNN, na madrugada de sábado, mostrou que a situação do Brasil caminha celeremente para uma crise igual à da Argentina -ou maior do que ela.
São dados técnicos, que não entendo direito, mas as imagens que a CNN mostrou são bem parecidas com as de Buenos Aires. Um economista anônimo, em entrevista relâmpago, diz que, no Brasil, o litro de leite paga imposto igual ao da garrafa de champanhe importada. Não sei se é verdade, mas a concentração de renda não foi feita por obra e graça do Espírito Santo.
Ela foi montada e está sendo operada por práticas e por entidades nada santas e tem no governo neoliberal de FHC o eixo que faltava a outros governos, que concentravam a renda artesanalmente, e não tecnicamente.
Os brasileiros intranquilos não investirão no dólar. Somente os tranquilos poderão fazer isso.



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