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CLÓVIS ROSSI
A mão invisível -e irracional
SÃO PAULO - Por fim, o tal de
mercado -ou, mais exatamente,
seus operadores em bancos, fundos
de investimento e afins- descobriu
a pólvora: os mercados não são racionais, não há a tal de "eficiência
de mercado".
Não, a notícia não está em nenhum boletim de grupos comunistas ou antissistema.
Saiu no "Financial Times", orgulhosamente pró-mercado. E apoia-se em pesquisa feita por gente de
mercado, mais exatamente o
"Chartered Financial Analyst Institute", que "há cinco décadas ensina
como verdade religiosa análises baseadas na eficiência do mercado para dezenas de milhares de aderentes ao redor do mundo".
O braço britânico do instituto
perguntou a seus membros se confiavam na eficiência do mercado.
Dois terços responderam que não,
que não acreditavam que os "preços
de mercado refletiam toda a informação disponível".
Note a sutileza da linguagem: o
que os pesquisados responderam,
na verdade, é que os preços de mercado refletem também -ou principalmente- a especulação.
Tem mais: 77%, mais de três
quartos portanto, disseram que discordam "fortemente" ou "muito
fortemente" de que os investidores
se comportem racionalmente.
Conclusão do jornal, absolutamente correta, além de inescapável:
a mudança de opinião dos agentes
de mercado tem significativo impacto, porque acreditar na eficiência dos mercados é o fundamento
de uma infinidade de cálculos
financeiros.
Para mim, não se trata de nenhuma revelação divina. A crise que começou no setor financeiro e invadiu a economia real já seria suficiente para destruir qualquer crença cega na eficiência dos mercados.
Só quero ver agora quantos séculos
os fundamentalistas de mercado tapuias vão levar para aceitar o que
seus companheiros britânicos
estão dizendo.
crossi@uol.com.br
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