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FERNANDO RODRIGUES
Crise e oportunidade
BRASÍLIA - Está banalizado o clichê de associar crises a momentos
de oportunidade para realizar mudanças. Mas a imagem nunca foi tão
apropriada para o Congresso.
Não fosse pela atual onda de escândalos, jamais seria possível assistir a um ex-presidente da República na tribuna do Senado tentando se justificar pela contratação de
um neto e de duas sobrinhas.
Além de falar de sua vida privada,
José Sarney acabou se comprometendo em público com duas mudanças relevantes para o Senado. São
promessas de político, mas de tão
inusitadas merecem registro para
posterior cobrança.
A medida mais revolucionária é
um projeto de Eduardo Suplicy, do
PT de São Paulo. Ele propõe colocar
na internet os nomes e os salários
de todos os funcionários do Senado,
sem exceção. No caso das nomeações políticas, a lista também estará
na parede de cada um dos gabinetes
dos 81 senadores, com a indicação
do local de trabalho -se em Brasília
ou nos Estados.
A outra providência foi apresentada por Arthur Virgílio, do PSDB
do Amazonas. Sua proposta é submeter o nome do diretor-geral do
Senado ao plenário da Casa. Também seria estipulado um prazo máximo para o exercício da função de
funcionários de alto escalão. Nada
anormal, pois são servidores à
frente de um orçamento próximo a
R$ 3 bilhões por ano.
As medidas, à primeira vista, parecem óbvias, banais. Nunca foram
adotadas por causa de uma combinação crônica de conveniência política com ineficiência administrativa, uma marca do Senado.
Premidos pela conjuntura, os senadores podem sair da atual barafunda um pouco melhores do que
quando entraram. Esse desfecho
não é certo, embora a possibilidade
exista. Sobretudo se Sarney cumprir as promessas anunciadas ontem. Terá de radicalizar na transparência do Senado. A ver.
frodriguesbsb@uol.com.br
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