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CLÓVIS ROSSI
É puro deboche
SÃO PAULO - Uma vez, quando se
discutia se o mandato do então presidente José Sarney deveria ser de
quatro ou cinco anos, escrevi que o
Brasil havia se transformado em
uma república bananeira, vistas as
manobras sórdidas em favor do
mandato mais longo.
Hoje, sou obrigado a pedir desculpas às repúblicas bananeiras. O
Brasil é pior. Ou pelo menos sua política é pior. Virou deboche.
Só pode ser deboche a eleição de
Paulo Duque para presidir o Conselho de Ética do Senado, a julgar pela
entrevista que deu à Folha. Espremendo bem as declarações, seu
conceito de ética é mais ou menos
assim: roubar pouco é ético.
Só se
roubar muito pode, assim mesmo
eventualmente, ser investigado pelo Conselho de Duque.
Aliás, o conceito de muito ou
pouco também é relativo, já que o
ínclito senador orgulha-se de ter
nomeado 5.000 pessoas para cargos públicos e ainda acrescenta que
todas estão felizes. Pudera.
Trata-se, claramente, de um caso único
no mundo de caçador de talentos
republicanos, um disseminador de
felicidade às custas do seu, do meu,
do nosso dinheirinho.
Na véspera, aquela foto do abraço
Lula/Collor já era um deboche.
Deu nojo, mas nem escrevi a respeito primeiro porque nojo é mau
conselheiro, segundo porque sabia
que o leitor dispensaria intermediários para julgar a debochada cena. Estava certíssimo, como dá prova o "Painel do Leitor" de ontem,
em que Silvério Oliveira diz tudo:
"Eles se merecem".
Como se o deboche fosse pouco,
ainda ficamos sabendo que o presidente não sabe o que diz. Não, não é
alguma iniciativa golpista da oposição. Trata-se de avaliação de um
dos sumo-sacerdotes do culto à
personalidade de Lula, o senador
Aloizio Mercadante, para quem o
que o presidente disse (sobre os senadores) "não expressa o que ele
efetivamente pensa". Ou seja, não
sabe se expressar.
crossi@uol.com.br
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