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ELIANE CANTANHÊDE
A "enrolation" colou
BRASÍLIA - Quinta-feira, 16h,
plenário vazio no Senado. Mão Santa (PMDB) preside a "sessão", Cristóvam Buarque (PDT) pede voto
de censura contra Lula por causa
do "pizzaiolos", Álvaro Dias (PSDB)
fala algo sobre a CPI da Petrobras.
Em 15 minutos, encerram-se os
trabalhos. Na prática, o recesso
começou.
Um semestre fecha e outro vai
abrir com o governo colecionando
três derrotas técnicas: a própria
CPI, a instalação do Conselho de
Ética e a fragilidade constrangedora do aliado Sarney, debaixo de saraivadas de acusações em Brasília e
no Maranhão. Mas, dentro de um
quadro ruim, o governo saiu-se melhor do que a encomenda.
A maior vitória foi ter empurrado
a instalação da CPI com a barriga
por 60 dias, operação que um governista chama de "enrolation"
(enrolação, na língua do sarcasmo).
Deu tempo para a Petrobras se armar para a guerra e os líderes treinarem e municiarem a tropa de
choque governista.
A intenção é forçar uma batalha
na base da chantagem: tudo que tucanos e democratas apresentarem
contra a Petrobras terá, imediatamente, um contraponto com o que
era antes, na era FHC.
A CPI, assim, é considerada "sob
controle" pelo governo, mas isso
não significa tranquilidade. Petróleo é altamente inflamável, a Petrobras mexe com empresas e contratos bilionários, há um mundo desconhecido nas suas entranhas e 54
senadores são candidatos à reeleição, doidos por holofotes.
Como comparação, a CPI dos
cartões corporativos remexia mesquinharias que caíam no terceiro
escalão e murchavam. A CPI da Petrobras é como um balão: tudo que
aparecer ali sobe na hierarquia, e
ninguém sabe onde pode parar.
Portanto, não dá para o governo
baixar a guarda. A oposição é desarticulada e pouco aplicada, mas, se
houver bombas-relógio, elas tendem a explodir. No duro, quem faz
as CPIs é a imprensa. Hoje o foco
está em Sarney. Mas até quando?
elianec@uol.com.br
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