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NELSON MOTTA
O caixa três e o voto-carniça
RIO DE JANEIRO - Além dos milhões dos fundos partidários e dos
horários eleitorais "gratuitos" -para eles, já que são pagos pelos contribuintes aos veículos, em forma
de renúncia fiscal-, agora eles querem o "financiamento público" de
suas campanhas: o caixa três.
Alguém acredita que a maioria
dos políticos brasileiros respeitará
os tetos de gastos e recusará ajudas
"espontâneas" de correligionários e
lobistas? Em muitas grandes democracias, as eleições têm financiamento privado, com regras e limites, e são limpas, fiscalizadas e equilibradas. As contribuições são rigidamente controladas e não interferem na alternância no poder. Por
que eles conseguem e nós não?
Porque o problema não é o sistema, são os usuários. Aqui, a regra é
não respeitar as regras: a impunidade parlamentar é a norma. Qualquer que seja o sistema, eles encontrarão sempre uma forma de driblar, com o jogo de cintura que os
caracteriza, a lei e a ordem, em benefício próprio, mas sempre em nome do povo, do partido ou da causa.
Mas o maior dos atrasos, matriz
de toda a perversão eleitoral, é o voto obrigatório. Alguém acredita que
pessoas que votam à força, para evitar a multa ou perder a bolsa, possam escolher bons candidatos? Ou
são esses que votam em qualquer
um, ou nos piores, pela chateação
de ter que ir à zona eleitoral?
Ninguém responde, só são contra
e fazem contas: "isso vai favorecer a
direita e as elites", ou então "isso
beneficia a clientela da esquerda". É
esse o nível da discussão. Todos disputam esses votos podres como
urubus disputam carniças.
O voto-lixo é o que eles chamam
de exercício da democracia, argumentando que, de tanto votar errado, o eleitor vai aprender a votar
certo. É por isso que o Congresso
está cada vez melhor.
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