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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Quem tem medo do metrô?
SÃO PAULO - A Folha noticiou na
sexta-feira que alguns moradores
de Higienópolis, reunidos numa associação, se mobilizam contra a futura estação Angélica do metrô, na
esquina com a rua Sergipe. No sábado, no "Painel do Leitor", dois
missivistas, um deles morador do
bairro, criticavam, com largas doses de ironia, a desconexão social
dos vizinhos "metrofóbicos".
É óbvio que a discussão -com o
perdão do trocadilho- soa bairrista. Mas seu interesse vai bem além
do impacto sobre aquela região
bem-aventurada da cidade.
Há precedentes. Em 2005, o então governador Geraldo Alckmin
cedeu a pressões de um grupo de
moradores de alta classe média (eufemismo para ricos) e desistiu de
construir a estação Três Poderes,
que constava havia mais de dez
anos dos planos originais da famosa linha 4 (amarela). Ela sumiu do
mapa, deixando entre as estações
Butantã e Morumbi (ainda em
obras) um intervalo de 2,4 km, mais
do que o dobro do recomendável.
A linha 6 (laranja), da qual consta a polêmica estação Angélica, faz
parte do plano de expansão do metrô, mas só existe no papel. Seu traçado provisório está conectado à linha 1 (norte-sul), na estação São
Joaquim, e vai até a futura estação
Brasilândia, na zona norte. Prevê 15
paradas, entre elas Higienópolis-Mackenzie, Angélica, Pacaembu,
PUC, Turiaçu e Água Branca.
Pode-se discutir se a estação x ou
y vai ficar aqui ou acolá. A decisão,
porém, precisa ser técnica, subordinada ao interesse coletivo, e não a
pressões demofóbicas de uma minoria que se alimenta do nosso desdém histórico pelo que é público.
Não dá mais para imaginar que a
locomoção na cidade seja viável no
futuro próximo sem a conclusão da
malha metroviária. Em 2000, havia
48 km de metrô em São Paulo; em
2011, devemos ter 78 km. Na média,
são menos de 3 km novos por ano.
Avançamos, mas de forma ainda
lenta, sem ter muita consciência de
que a opção pelo carro já nos levou
até o limite do desvario urbano.
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