São Paulo, terça-feira, 17 de agosto de 2010

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

Quem tem medo do metrô?

SÃO PAULO - A Folha noticiou na sexta-feira que alguns moradores de Higienópolis, reunidos numa associação, se mobilizam contra a futura estação Angélica do metrô, na esquina com a rua Sergipe. No sábado, no "Painel do Leitor", dois missivistas, um deles morador do bairro, criticavam, com largas doses de ironia, a desconexão social dos vizinhos "metrofóbicos".
É óbvio que a discussão -com o perdão do trocadilho- soa bairrista. Mas seu interesse vai bem além do impacto sobre aquela região bem-aventurada da cidade.
Há precedentes. Em 2005, o então governador Geraldo Alckmin cedeu a pressões de um grupo de moradores de alta classe média (eufemismo para ricos) e desistiu de construir a estação Três Poderes, que constava havia mais de dez anos dos planos originais da famosa linha 4 (amarela). Ela sumiu do mapa, deixando entre as estações Butantã e Morumbi (ainda em obras) um intervalo de 2,4 km, mais do que o dobro do recomendável.
A linha 6 (laranja), da qual consta a polêmica estação Angélica, faz parte do plano de expansão do metrô, mas só existe no papel. Seu traçado provisório está conectado à linha 1 (norte-sul), na estação São Joaquim, e vai até a futura estação Brasilândia, na zona norte. Prevê 15 paradas, entre elas Higienópolis-Mackenzie, Angélica, Pacaembu, PUC, Turiaçu e Água Branca.
Pode-se discutir se a estação x ou y vai ficar aqui ou acolá. A decisão, porém, precisa ser técnica, subordinada ao interesse coletivo, e não a pressões demofóbicas de uma minoria que se alimenta do nosso desdém histórico pelo que é público.
Não dá mais para imaginar que a locomoção na cidade seja viável no futuro próximo sem a conclusão da malha metroviária. Em 2000, havia 48 km de metrô em São Paulo; em 2011, devemos ter 78 km. Na média, são menos de 3 km novos por ano. Avançamos, mas de forma ainda lenta, sem ter muita consciência de que a opção pelo carro já nos levou até o limite do desvario urbano.


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