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CLÓVIS ROSSI
Cancún em Miami?
CIDADE DO MÉXICO - A próxima reunião ministerial da Alca (Área de
Livre Comércio das Américas), marcada para novembro em Miami, tende a ser um belo espetáculo, a julgar
pela fúria com que os norte-americanos (e também os europeus) receberam o comportamento em Cancún
do Brasil e do G-21, o grupo de países
em desenvolvimento liderado pelo
Brasil, agora integrado por 23 países.
Robert Zoellick, o chefe do USTr
(United States Trade Representative,
uma espécie de ministério do Comércio Exterior), deixou na sua última
entrevista coletiva em Cancún uma
espécie de aviso ao atacar a "retórica
incendiária" de alguns "grandes países em desenvolvimento". Os alvos
são, na essência, Brasil e China.
Mas, como a China não faz parte
da Alca, é óbvio que o problema é entre Brasil e Estados Unidos. O jornal
"The Miami Herald", em sua edição
de ontem, reproduz a seguinte frase
de Robin Rosenberg, especialista em
Comércio do Centro Norte-Sul da
Universidade de Miami: "O Brasil está emergindo de Cancún como um líder global do mundo em desenvolvimento".
O mundo rico e, em especial, os Estados Unidos não gostam nadinha de
contrapontos -por mais que a distância entre o peso econômico dos
países seja imensa.
Logo é razoável supor que queiram
fazer de Miami a oportunidade para
devolver o Brasil a seu devido lugar.
É bom notar que, na conferência da
Alca, estarão presentes 12 dos membros do G-23, sem contar o próprio
Brasil (Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, El Salvador,
Equador, Guatemala, México, Paraguai, Peru e Venezuela).
O grupo não foi criado para a Alca,
mas para enfrentar uma proposta
americano-européia muito modesta
em matéria de liberalização agrícola.
Mas na Alca também se discute a
questão agrícola e o formidável protecionismo norte-americano nessa
área. Seria quase natural que se reproduzisse em Miami a aliança que
sacudiu Cancún.
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