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FERNANDO RODRIGUES
Gugu e o "infortenimento"
BRASÍLIA - Gugu Liberato tem pelo menos um mérito no episódio dos supostos integrantes da facção criminosa PCC que apareceram no seu programa dominical ameaçando de
morte um punhado de gente. Sem
querer, o homem-show do SBT chamou a atenção para uma praga que
assola a mídia: a mistura indiscriminada de informação com entretenimento, o "infortenimento".
A tendência é geral. Atrações dominicais têm "repórteres" apresentando
"notícias". Apresentadoras de um telejornal do SBT são ex-integrantes da
"Casa dos Artistas".
O "Fantástico", da TV Globo, mostrou de forma simpática no domingo
a passeata de 40 mil pessoas, no Rio,
a favor do desarmamento. Anteontem, alguns telejornais de outras
emissoras fizeram o mesmo. A causa
é nobre, mas há aí um certo embaralhamento de notícia com opinião.
Na segunda-feira, a novela "Mulheres Apaixonadas" foi para lá de
favorável ao desarmamento. Personagens da novela se vestiram de
branco e apareceram em cenas
"reais" na passeata -com o hino nacional sendo tocado ao fundo, do jeito que o presidente Lula gosta.
Há uma imbricação perigosa entre
novela e telejornais. Essa superposição alegrou políticos que foram à
passeata e ganharam exposição dentro de "Mulheres Apaixonadas".
De volta ao caso Gugu. Se ficar
comprovado que o "Domingo Legal"
forjou a entrevista com duas pessoas
encapuzadas, mostrando-as como
integrantes do PCC, esse será apenas
o aspecto visível de um problema
mais profundo -o "infortenimento"
aumenta a audiência das TVs ao custo de às vezes confundir o telespectador sentado no sofá.
Ou as emissoras se auto-regulam
-separando o que é ficção de notícia- ou logo aparecerá alguém no
Congresso propondo fazer uma lei de
censura. Seria muito pior.
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