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São Paulo, quarta-feira, 17 de setembro de 2003

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FERNANDO RODRIGUES

Gugu e o "infortenimento"

BRASÍLIA - Gugu Liberato tem pelo menos um mérito no episódio dos supostos integrantes da facção criminosa PCC que apareceram no seu programa dominical ameaçando de morte um punhado de gente. Sem querer, o homem-show do SBT chamou a atenção para uma praga que assola a mídia: a mistura indiscriminada de informação com entretenimento, o "infortenimento".
A tendência é geral. Atrações dominicais têm "repórteres" apresentando "notícias". Apresentadoras de um telejornal do SBT são ex-integrantes da "Casa dos Artistas".
O "Fantástico", da TV Globo, mostrou de forma simpática no domingo a passeata de 40 mil pessoas, no Rio, a favor do desarmamento. Anteontem, alguns telejornais de outras emissoras fizeram o mesmo. A causa é nobre, mas há aí um certo embaralhamento de notícia com opinião.
Na segunda-feira, a novela "Mulheres Apaixonadas" foi para lá de favorável ao desarmamento. Personagens da novela se vestiram de branco e apareceram em cenas "reais" na passeata -com o hino nacional sendo tocado ao fundo, do jeito que o presidente Lula gosta.
Há uma imbricação perigosa entre novela e telejornais. Essa superposição alegrou políticos que foram à passeata e ganharam exposição dentro de "Mulheres Apaixonadas".
De volta ao caso Gugu. Se ficar comprovado que o "Domingo Legal" forjou a entrevista com duas pessoas encapuzadas, mostrando-as como integrantes do PCC, esse será apenas o aspecto visível de um problema mais profundo -o "infortenimento" aumenta a audiência das TVs ao custo de às vezes confundir o telespectador sentado no sofá.
Ou as emissoras se auto-regulam -separando o que é ficção de notícia- ou logo aparecerá alguém no Congresso propondo fazer uma lei de censura. Seria muito pior.


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