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São Paulo, quarta-feira, 17 de setembro de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

A dança dos ministros

RIO DE JANEIRO - Oito meses atrás, empossava-se o governo de Lula sob aclamações gerais, esperanças mil de que agora a coisa iria no vai ou racha. E li uma declaração de um entendido em PT que elogiava a equipe que chegava ao poder, considerando-a "coesa".
Sempre embirrei com essa palavra, que me parecia exclusiva dos pronunciamentos militares, das ordens do dia dos quartéis e das efemérides cívicas. O ministério de Lula foi montado com o espírito de coesão, do alinhamento de propósitos, de tudo o que se espera de uma equipe que sabe o que quer e que tem um chefe para indicar o caminho.
Passou tão pouco tempo e já se sabe que a tal coesão não era tão coesa assim. Além das trombadas internas, que poderiam ser normais e até mesmo salutares, há um apetite pantagruélico em cima de determinadas pastas e um apetite na mesma dimensão daqueles que, estando fora, querem pular para dentro.
Domingo passado, por exemplo, alguns dos mais importantes jornais do país publicaram as listas, com as respectivas fotos, dos ministros existentes, dos quase-ministros, dos ministros que desejam mudar de pasta e, finalmente, dos freelancers que estão na boca de espera para ver se descolam algum ministério.
Feitas as contas, fica patente que o ministério de Lula não é um grupo de trabalho administrativo, gente empenhada em cumprir um programa, em realizar um projeto que vá além da abstração de um problemático "espetáculo do crescimento", prometido para o famoso futuro do qual o Brasil se acha o país preferencial.
Tirante Zé Dirceu e alguns companheiros mais próximos e antigos, que lealmente o acompanham há muito, sente-se que o presidente não está à vontade com o ministério que escolheu, ou melhor, que escolheram para ele. E, pelo rodar da carruagem, Lula poderá mudar um ou outro nome, mas tudo continuará na mesma.


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