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CLÓVIS ROSSI
A meta e o bom senso
BRASÍLIA - Desde que há estatísticas no Brasil, em apenas dois anos (1949
e 1998) o país conseguiu ter inflação
anual inferior a 5,5%. Ora, 5,5% é o
centro da meta de inflação definido
pelo governo para 2004, alvo inatingível, a não ser -e assim mesmo
eventualmente- com elevações das
taxas de juros, já obscenamente altas.
Trata-se, pelo histórico do país, da
tentativa de quebrar um recorde
olímpico à custa de "desanabolizar"
um paciente que não é exatamente o
mais sadio dos países na face da Terra. Para quê?
Não, não fui buscar estatísticas no
fundo do baú só para irritar os áulicos do governo. Quem as levantou foi
exatamente o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante, que, ademais, lembra o que aconteceu nos
dois anos em que a inflação ficou
abaixo do patamar que se pretende
como centro da meta de 2004.
Nem vou mencionar 1949 porque é
pré-história. Mas 1998 foi o ápice do
"populismo cambial", no qual o governo Fernando Henrique Cardoso
promoveu uma formidável queima
de reservas para sustentar uma paridade cambial insustentável.
Como se fosse pouco, ainda há o fato de que parte importante dos aumentos de preços não é minimamente afetada pelos juros altos. São as tarifas dos serviços públicos ou privatizados, que sobem por motivos contratuais ou fatores externos e, portanto, subiriam qualquer que fosse a
taxa de juros.
Bom, mudemos de interlocutor,
mas fiquemos sempre na área governamental. O vice-presidente José
Alencar, que muita gente tenta folclorizar porque é sistemático crítico
dos juros altos, diz que não é contra a
decisão do BC de anteontem, mas é
contra, sim, a política de contração
monetária em vigor desde que Lula
(e o próprio Alencar) assumiu.
O argumento de Alencar não é nada folclórico. É apenas simples: juros
altos servem para brecar o consumo,
o que é um contra-senso em um país
em que há o que o vice-presidente
chama de "subconsumo".
Acrescento: é óbvio que há também
"sub-bom senso".
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