São Paulo, sexta-feira, 17 de setembro de 2004

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ELIANE CANTANHÊDE

Quem dá mais?

BRASÍLIA - Saí de São Paulo com a sensação de que todo mundo quer o Maluf e que ninguém quer o Maluf. Leia-se: Marta (PT) e Serra (PSDB) não só desejam como precisam dos votos malufistas para ganhar no segundo turno. Mas os dois querem o bônus, não o ônus. Querem os votos de Maluf, mas sem a contaminação pela imagem de Maluf.
Complicado? Nem tanto, basta ver como eram, como são e como continuarão sendo esses estranhos arranjos da política, ora para colher votos dos cidadãos, ora para cooptar votos adversários em decisões do Congresso. Como Lula faz agora com ACM.
O curioso em São Paulo é como os candidatos estão se movendo em torno de Maluf -que caiu para 12% nas pesquisas e não tem chance nenhuma de vitória, nem mesmo de chegar ao segundo turno. A força de Marta e de Serra está na vitória. A de Maluf, na derrota, no espólio.
Serra é o herdeiro natural dos votos malufistas -73% dos eleitores de Maluf o preferem no segundo turno, segundo o Datafolha. Apesar disso, o que faz ele? Não pára de repetir que Marta está ficando igual a Maluf. Soa como se o próprio Serra induzisse os malufistas a votar em Marta.
Quanto à prefeita: quer o voto do eleitor do Maluf, mas nem pensar em Maluf no palanque. O que, aliás, é bastante compreensível. Mas o que o próprio Maluf e seus eleitores fiéis acham disso? Maluf parece topar esse "apoio com nojo" e deve ter lá bons motivos para isso nas suas negociações com o pragmático PT federal. Mas os seus eleitores aceitam migrar para quem trata assim o velho ídolo?
São dúvidas, não certezas. Até porque, quanto mais perto a eleição, mais desespero de todos os lados, e as campanhas engrenam em duas direções: ataque ao adversário mais forte nos programas de rádio e de TV e promessas doces ao pé do ouvido dos candidatos sem chance.
O eleitor ouve os ataques, fica boiando nos acordos de bastidores e é quem vai sofrer a rebordosa depois. Porque acordos de campanha, esses, sim, viram compromissos de governo.


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