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ELIANE CANTANHÊDE
Quem dá mais?
BRASÍLIA - Saí de São Paulo com a sensação de que todo mundo quer o
Maluf e que ninguém quer o Maluf.
Leia-se: Marta (PT) e Serra (PSDB)
não só desejam como precisam dos
votos malufistas para ganhar no segundo turno. Mas os dois querem o
bônus, não o ônus. Querem os votos
de Maluf, mas sem a contaminação
pela imagem de Maluf.
Complicado? Nem tanto, basta ver
como eram, como são e como continuarão sendo esses estranhos arranjos da política, ora para colher votos
dos cidadãos, ora para cooptar votos
adversários em decisões do Congresso. Como Lula faz agora com ACM.
O curioso em São Paulo é como os
candidatos estão se movendo em torno de Maluf -que caiu para 12%
nas pesquisas e não tem chance nenhuma de vitória, nem mesmo de
chegar ao segundo turno. A força de
Marta e de Serra está na vitória. A de
Maluf, na derrota, no espólio.
Serra é o herdeiro natural dos votos
malufistas -73% dos eleitores de
Maluf o preferem no segundo turno,
segundo o Datafolha. Apesar disso, o
que faz ele? Não pára de repetir que
Marta está ficando igual a Maluf.
Soa como se o próprio Serra induzisse
os malufistas a votar em Marta.
Quanto à prefeita: quer o voto do
eleitor do Maluf, mas nem pensar em
Maluf no palanque. O que, aliás, é
bastante compreensível. Mas o que o
próprio Maluf e seus eleitores fiéis
acham disso? Maluf parece topar esse
"apoio com nojo" e deve ter lá bons
motivos para isso nas suas negociações com o pragmático PT federal.
Mas os seus eleitores aceitam migrar
para quem trata assim o velho ídolo?
São dúvidas, não certezas. Até porque, quanto mais perto a eleição,
mais desespero de todos os lados, e as
campanhas engrenam em duas direções: ataque ao adversário mais forte
nos programas de rádio e de TV e
promessas doces ao pé do ouvido dos
candidatos sem chance.
O eleitor ouve os ataques, fica
boiando nos acordos de bastidores e é
quem vai sofrer a rebordosa depois.
Porque acordos de campanha, esses,
sim, viram compromissos de governo.
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