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CLAUDIA ANTUNES
Parques para rambos
RIO DE JANEIRO - Quando soldados americanos se divertem com a tortura de prisioneiros ou abrem fogo do
alto de um helicóptero contra uma
aglomeração de gente desarmada, o
que pode haver de extraordinário no
caso do caçador de recompensas Jonathan Idema, o ex-boina verde flagrado em Cabul com três prisioneiros
pendurados pelos pés do telhado de
uma casa? Só mesmo o fato de ele ter
chegado a ser preso e julgado.
Tanto as tropas que apertam o gatilho contra tudo o que se move como
Idema, símbolo da guerra privatizada, são conseqüência da certeza que
se propagou nos EUA com a estratégia militar desenvolvida depois da
derrota humilhante no Vietnã: a de
que é possível atacar, conquistar e
vencer com um custo desprezível em
vidas de soldados americanos.
Primeiro, ainda na Guerra Fria, a
opção foi financiar "combatentes da
liberdade", sendo o recurso da intervenção direta usado apenas em casos
rápidos, como Panamá e Granada.
Em seguida, vieram as campanhas
"cirúrgicas" na Guerra do Golfo e na
Iugoslávia, descontado o contratempo desagradável da Somália. Agora,
nas ocupações do Iraque e do Afeganistão, a solução foi colocar mercenários em postos de maior risco. Eles
não entram no cálculo de baixas,
preservando o máximo possível a
sensação de invulnerabilidade dos
militares.
A guerra terceirizada, condizente
com tempos de desregulamentação
em todos os campos, cria parques de
diversões para rambos tão aventureiros quanto impregnados de espírito
colonialista. Na África do Sul, foi preso no final de agosto o filho dito mimado de Margaret Thatcher, Mark,
ex-aluno do aristocrático colégio
Eton, acusado de envolvimento em
um golpe na Guiné Equatorial.
Com pedigree tão extenso quanto o
de Mark, e como ele envolvido em negócios fraudulentos, seu amigo Simon Mann foi condenado no Zimbábue por supostamente liderar os mercenários que pretendiam controlar as
reservas de petróleo do país africano.
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