São Paulo, sexta-feira, 17 de setembro de 2004

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CLAUDIA ANTUNES

Parques para rambos

RIO DE JANEIRO - Quando soldados americanos se divertem com a tortura de prisioneiros ou abrem fogo do alto de um helicóptero contra uma aglomeração de gente desarmada, o que pode haver de extraordinário no caso do caçador de recompensas Jonathan Idema, o ex-boina verde flagrado em Cabul com três prisioneiros pendurados pelos pés do telhado de uma casa? Só mesmo o fato de ele ter chegado a ser preso e julgado.
Tanto as tropas que apertam o gatilho contra tudo o que se move como Idema, símbolo da guerra privatizada, são conseqüência da certeza que se propagou nos EUA com a estratégia militar desenvolvida depois da derrota humilhante no Vietnã: a de que é possível atacar, conquistar e vencer com um custo desprezível em vidas de soldados americanos.
Primeiro, ainda na Guerra Fria, a opção foi financiar "combatentes da liberdade", sendo o recurso da intervenção direta usado apenas em casos rápidos, como Panamá e Granada. Em seguida, vieram as campanhas "cirúrgicas" na Guerra do Golfo e na Iugoslávia, descontado o contratempo desagradável da Somália. Agora, nas ocupações do Iraque e do Afeganistão, a solução foi colocar mercenários em postos de maior risco. Eles não entram no cálculo de baixas, preservando o máximo possível a sensação de invulnerabilidade dos militares.
A guerra terceirizada, condizente com tempos de desregulamentação em todos os campos, cria parques de diversões para rambos tão aventureiros quanto impregnados de espírito colonialista. Na África do Sul, foi preso no final de agosto o filho dito mimado de Margaret Thatcher, Mark, ex-aluno do aristocrático colégio Eton, acusado de envolvimento em um golpe na Guiné Equatorial.
Com pedigree tão extenso quanto o de Mark, e como ele envolvido em negócios fraudulentos, seu amigo Simon Mann foi condenado no Zimbábue por supostamente liderar os mercenários que pretendiam controlar as reservas de petróleo do país africano.


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