São Paulo, domingo, 17 de setembro de 2006

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Risco de recessão

O ACÚMULO de evidências de esfriamento do setor de construção residencial torna cada vez mais firme a perspectiva de que o crescimento da economia americana vai perder fôlego. Alguns analistas afirmam que uma recessão se aproxima.
Um dos argumentos mais invocados por essa corrente é a constatação de que a taxa de juros de longo prazo está mais baixa do que a de curto prazo, fato conhecido como "inversão da curva de juros". Nos últimos 50 anos, em todas as ocasiões em que esse fenômeno foi verificado, logo sobreveio uma recessão.
Se a constatação preocupa, há também elementos novos no mercado de títulos públicos americanos que podem impedir a repetição da história.
A inversão da curva de juros em geral reflete a avaliação dos investidores de que um desaquecimento brusco da economia se avizinha, o que tornaria iminente uma redução rápida da taxa de juros de curto prazo pelo banco central. Essa expectativa estimula a compra de papéis de longo prazo (reduzindo sua remuneração) e tende a inibir a oferta de crédito. Precipita-se, assim, a recessão, pois o retorno dos empréstimos, atrelado aos juros de longo prazo, fica inferior ao custo de captação dos bancos, mais ligado à taxa de curto prazo.
Na atual conjuntura, porém, outros fatores contribuem para o recuo dos juros longos, como a menor incerteza sobre a inflação e a forte demanda por títulos americanos advinda dos bancos centrais da Ásia, dos exportadores de petróleo e dos emergentes em geral. Tais compras se ligam mais à preocupação dessas nações de moderar a valorização de suas moedas do que a considerações sobre a economia dos EUA.
Se esses elementos forem mesmo significativos, a inversão da curva de juros estaria a sinalizar uma desaceleração, mas não necessariamente uma recessão.


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