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Risco de recessão
O ACÚMULO de evidências de
esfriamento do setor de
construção residencial
torna cada vez mais firme a perspectiva de que o crescimento da
economia americana vai perder
fôlego. Alguns analistas afirmam
que uma recessão se aproxima.
Um dos argumentos mais invocados por essa corrente é a
constatação de que a taxa de juros de longo prazo está mais baixa do que a de curto prazo, fato
conhecido como "inversão da
curva de juros". Nos últimos 50
anos, em todas as ocasiões em
que esse fenômeno foi verificado, logo sobreveio uma recessão.
Se a constatação preocupa, há
também elementos novos no
mercado de títulos públicos
americanos que podem impedir
a repetição da história.
A inversão da curva de juros
em geral reflete a avaliação dos
investidores de que um desaquecimento brusco da economia se
avizinha, o que tornaria iminente uma redução rápida da taxa de
juros de curto prazo pelo banco
central. Essa expectativa estimula a compra de papéis de longo
prazo (reduzindo sua remuneração) e tende a inibir a oferta de
crédito. Precipita-se, assim, a recessão, pois o retorno dos empréstimos, atrelado aos juros de
longo prazo, fica inferior ao custo de captação dos bancos, mais
ligado à taxa de curto prazo.
Na atual conjuntura, porém,
outros fatores contribuem para o
recuo dos juros longos, como a
menor incerteza sobre a inflação
e a forte demanda por títulos
americanos advinda dos bancos
centrais da Ásia, dos exportadores de petróleo e dos emergentes
em geral. Tais compras se ligam
mais à preocupação dessas nações de moderar a valorização de
suas moedas do que a considerações sobre a economia dos EUA.
Se esses elementos forem mesmo significativos, a inversão da
curva de juros estaria a sinalizar
uma desaceleração, mas não necessariamente uma recessão.
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