São Paulo, segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Babel da segurança

AS MAIS elementares regras da administração estipulam a necessidade de os gestores saberem com o que estão lidando. Tal exigência, apesar de óbvia, não é observada no âmbito da segurança pública, setor em que a União e os Estados investiram R$ 27 bilhões em 2005.
Os dados tabulados pelas polícias brasileiras são de qualidade tão irregular que as autoridades mal podem tomá-los por base na hora de definir prioridades e decidir gastos. A fim de atrair atenção para o problema, a ONG Fórum Brasileiro de Segurança Pública -que congrega pesquisadores e policiais- acaba de lançar seu primeiro anuário, no qual reúne estatísticas do setor. A maior parte dos dados foi enviada pelos Estados à Secretaria Nacional de Segurança Pública.
A crer em informações oficiais, Sergipe não fez uma única prisão por tráfico de drogas em 2005 e ali só foram registrados quatro casos de posse ou uso de entorpecentes naquele ano. Pelos números do governo, o problema da superlotação carcerária é pequeno; haveria apenas 1,4 preso por vaga, o que contraria o mais elementar senso da realidade.
Os desencontros estatísticos são tamanhos que produziram uma discrepância de 6.603 cadáveres em 2005. Para o Ministério da Saúde, homicídios e mortes por agressão somaram 47.578; já para as polícias, foram 40.975. Os números da Saúde parecem mais sólidos. São os hospitais, afinal, que contam os corpos.
Já passa da hora de melhorar as estatísticas policiais no país. A tarefa não é especialmente complexa nem dispendiosa. Basta que representantes do Ministério da Justiça e os secretários estaduais de Segurança se reúnam e, à luz da experiência internacional, definam uma padronização nacional e a cumpram.
Sem uma base sólida e confiável de dados, as autoridades jamais conseguirão imprimir inteligência no combate ao crime.

Texto Anterior: Editoriais: Exemplo sueco
Próximo Texto: São Paulo - Fernando de Barros e Silva: Decifra-me ou te devoro
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.