São Paulo, segunda-feira, 17 de setembro de 2007

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

Decifra-me ou te devoro

SÃO PAULO - Em texto publicado anteontem nesta página, Fernando Gabeira relacionou a absolvição de Renan Calheiros com a derrota da emenda que previa a volta da eleição direta para presidente. Em 1984, disse, apesar da ressaca havia mobilização -o país "pulsava com uma nova energia; agora parece cansado e descrente, depois de duas décadas de democracia".
Não são, evidentemente, frustrações comparáveis. Cada época tem as diretas que merece. Mas os mesmos personagens que então vocalizavam a esperança e abriam horizontes são hoje os fiadores do cinismo oficial. Entre este e o lacerdismo de certa oposição a política virou quase disputa entre gangues.
O submundo do governismo busca transformar Renan em mártir da soberania popular contra o golpismo da mídia ou símbolo de resistência à tirania dos meios de comunicação. A isso chegou parte da tropa lulista. Gente degradada, de alma turva e ideais rebaixados. Seria melhor se a derrota fosse da mídia.
A comparação entre o revés no Senado e 84 permite ver as coisas em perspectiva histórica. E sugere uma reflexão sobre a dificuldade de discernir entre avanços e retrocessos na história recente do país.
O príncipe sociólogo e progressista formado no ambiente da esquerda e o maior líder operário da história brasileira terão nos governado por 16 anos seguidos. É fácil ver avanço histórico nas eleições de FHC e de Lula. O êxito deles, porém, se confunde com a frustração das expectativas em nome das quais foram eleitos. A culpa não é só da maré liberal-conservadora, que virou o mundo de ponta-cabeça.
FHC e Lula chegaram lá associados ao atraso. Patrocinaram e deram fôlego a coronéis e caciques do patrimonialismo. Sempre em nome da mesma modernização conservadora e pragmática, que, ao cabo, terá revirado tudo, menos o essencial. Mudaram o país, foram mudados por ele ou revelaram ser o que sempre foram? E quem se importa?


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