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FERNANDO RODRIGUES
Comportamento de manada
BRASÍLIA - No dia 19 de outubro
de 1987, a chamada "segunda-feira
negra", o mundo parecia ter chegado ao fim. A Bolsa de Nova York
caiu 22,6%. Naquele ano, fecharam
as portas ou foram comprados 487
bancos comerciais.
Anteontem, as ações caíram 4,4%
em Nova York. Um grande banco de
investimentos faliu. Há mais na fila.
Por enquanto, neste ano, menos de
15 instituições financeiras encerraram seus negócios nos EUA.
Como se vê, há diferenças brutais
entre agora e 1987. Mas o clima em
Wall Street tem sido parecido. Muito discurso apocalíptico apesar de
as comparações mostrarem haver
distinções substantivas entre a crise atual e as anteriores.
As similitudes só ficam no campo
das interpretações e reações imediatistas. O comportamento de manada do mercado (o mais covarde
dos animais) nunca muda. Outro
consenso é a incerteza sobre como
será o formato do sistema financeiro norte-americano depois de passado pandemônio.
Nos meses após 1987, várias medidas foram tomadas para regular o
mercado. Criou-se o "circuit breaker": um mecanismo que interrompe por até uma hora a compra e a
venda de ações após quedas de preço abruptas de 10% ou mais.
Em meio ao ceticismo da atual
crise, alguma forma de regulação
extra será adotada. O Congresso e o
próximo presidente dos EUA empurrarão o mercado para um ambiente mais estrito. Gigantes como
o Lehman Brothers terão dificuldade para acumular bilhões de operações podres e sem lastro.
Românticos de Cuba podem indagar: por que não fizeram antes regras mais rígidas? Simples. Esse é
um dos defeitos inerentes ao capitalismo, um sistema incompleto,
injusto, cheio de defeitos e que se
constrói a cada crise. Há alternativas para esse sobe-e-desce, claro.
Os exóticos modelos da Venezuela
ou da Bolívia, por exemplo.
frodriguesbsb@uol.com.br
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