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CLÓVIS ROSSI
O sub e a águia
MIAMI - Donna Hrinak, que parece gozar de especial carinho na cúpula
do PT, já havia sugerido a Luiz Inácio Lula da Silva: pode criticar o
quanto quiser a política norte-americana, mas não entre em críticas pessoais ao presidente.
Referia-se à declaração de Lula segundo a qual, de cada dez vezes que
George Walker Bush abre a boca, nove são para falar de guerra.
Não tenho a menor idéia de como
Hrinak vai reagir ao ataque de Lula
a Robert Zoellick, uma espécie de ministro de Comércio Exterior norte-americano, qualificado de "sub do
sub do sub" de não sei quem. Na forma, é bobagem: o cargo de Zoellick
tem status ministerial. Logo ele só é
sub de Bush, de ninguém mais.
No conteúdo, é uma bravata equivalente à arrogância do funcionário
norte-americano. Ao dizer que o Brasil ou aceita a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) ou vai ter de
vender os seus produtos na Antártida
(onde não há compradores), Zoellick
está exibindo a prepotência típica
dos negociadores comerciais norte-americanos (o que, na gestão Bush,
virou regra geral).
O diabo é que Zoellick tem toda a
incontrastável força dos Estados Unidos para fazer valer a sua prepotência. E Lula, o que terá se eleito?
A menos que queira jogar a Alca na
lata do lixo (hipótese que pode, de fato, fazer o Brasil ter a Antártida como principal mercado), Lula terá de
negociá-la basicamente nos termos
definidos pelo governo Fernando
Henrique Cardoso.
Ao Brasil, a Alca só interessa se os
EUA eliminarem o protecionismo,
tarifário ou de outra natureza, que
prejudicam exatamente a produção
brasileira mais competitiva. E se,
além disso, não quiserem impor regras (sobre investimentos, por exemplo) que impeçam políticas internas,
sejam quais forem.
Para isso, no entanto, o PT vai precisar de uma ampla coalizão interna
-política, sindical e empresarial-
em torno da Alca. Hoje, ela é fragmentada e hesitante. Zoellick pode
ser o que Lula quiser, mas tem atrás
dele o peso da águia americana.
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