São Paulo, quinta-feira, 17 de outubro de 2002

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ELIANE CANTANHÊDE

"Eficaz" para quê?

BRASÍLIA - O presidente Fernando Henrique Cardoso não só foi informado antes como acompanhou o recrudescimento da campanha do tucano José Serra e, finalmente, avalizou o ataque ao PT: é "eficaz", disse a governistas, dando de ombros às críticas de "terrorismo eleitoral".
Em duas reuniões no Alvorada -uma com líderes do PSDB e do governo no Congresso, outra com a tropa de choque pró-Serra no PSDB, PMDB e PFL-, FHC concordou com o discurso do "medo" se Lula for eleito: "medo do caos", "medo da fuga de capitais", "medo da inflação", "medo da bagunça administrativa". É isso que José Aníbal, Arthur Virgílio, Geddel Vieira Lima e o programa de TV de Serra propagam.
Há controvérsias, entretanto, quanto à "eficácia": 1) isso influencia mesmo o eleitorado? 2) e obrigatoriamente contra Lula? 3) há tempo para uma reviravolta com a diferença de tantos milhões de votos?
A não ser que o ataque seja "eficaz" não exatamente para ganhar a eleição mas para articular já a futura oposição ao governo Lula no Congresso. Com a crescente sensação de que Lula "já ganhou", o "núcleo duro" do governo FHC e do segundo turno de Serra pode estar já se posicionando para o que vem depois.
Política é política. Ontem, Ciro e Garotinho diziam cobras e lagartos sobre Lula, mas hoje estão todos juntos. Nada impede, pois, que a "onda vermelha" colha um e outro do "núcleo duro" serrista. Mas, tomando-se apenas a atual contundência contra o possível governo Lula, é difícil prever todos eles pendurados em cargos e esfalfando-se para defender Lula e o PT a partir de janeiro.
Os serristas, porém, vão enfrentar resistências internas. Ontem mesmo, enquanto FHC se reunia com a tropa de choque de Serra no Alvorada, Aécio Neves se encontrava "casualmente" com Lula no aeroporto de Brasília. Depois de, também "casualmente", Lula cancelar uma entrevista porque, de olho no relógio, tinha muita pressa. Põe pressa nisso.


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