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CARLOS HEITOR CONY
O dólar e as rosas
RIO DE JANEIRO - O presidente da República e sua equipe econômica estão reclamando daquilo que chamam de especulação. Entenda-se por
especulação a norma existente em
qualquer mercado que visa ao lucro
maior e mais rápido. É uma das leis
irrevogáveis, como a da gravidade e a
da própria globalização, sob as quais
somos obrigados a viver.
O que não chega a ser lei -e dispensa a obrigatoriedade- é a incoerência do atual governo, que também
especulou com o dólar no início do
Plano Real, elegendo o atual presidente, alterando a Constituição num
dos artigos mais pétreos e reelegendo
o especulador que fazia o país acreditar na especulação mais cretina de
nossa história econômica: a de que o
real valia um dólar.
O proveito da especulação, tanto
num caso como no outro, foi o lucro
maior e mais rápido. Os especuladores de agora podem operar com o dólar a R$ 4 e, no espaço de uma noite
-ao contrário das rosas de Malherbe, que viviam o espaço de uma manhã-, viverem uma fortuna.
Mas os especuladores de ontem
também tiveram lucro maior e mais
rápido, insistindo radicalmente na
paridade do real com o dólar. Arrebentaram com o mercado de trabalho, sucatearam empresas, mas se
mantiveram no poder por oito anos.
Quando vim ao mundo, em distante ano, já encontrei dois lugares-comuns que prometi repudiar, mas,
volta e meia, escorrego em suas facilidades. Um deles é o do roto e do esfarrapado. Em matéria de especulação,
tanto o governo como os aproveitadores da alta do dólar funcionam como rotos e esfarrapados, embora não
sejam nem uma coisa nem outra.
O outro lugar-comum são as rosas
de Malherbe. Fui educado num ambiente em que, invariavelmente, um
professor falava nas tais rosas. Tomei
implicância com elas -mas delas
não me livro, até mesmo quando estou falando de coisas nada poéticas,
como especulação, dólar e governo de
FHC.
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