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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Café com leite
SÃO PAULO - Com a entrada de
Marina Silva (PV) e a presença de
um Ciro Gomes (PSB) forte no páreo, Fernando Henrique Cardoso
identifica certa desorganização do
quadro sucessório. Mas, ao contrário de José Serra (PSDB), que apostava na polarização precoce entre
petistas e tucanos, o ex-presidente
vê o desmanche temporário do Fla-Flu como algo que favorece a oposição neste momento.
Apesar das incertezas que rondam 2010, FHC tem dito a interlocutores que Serra, desta vez, está
condenado a ser o candidato tucano. Parece óbvio, mas não é.
Ciro, por exemplo, acredita que o
governador paulista, diante da percepção das suas dificuldades para
vencer o lulismo, tenderá cada vez
mais a vacilar em sua pretensão
presidencial, com boas chances de,
no final, trocar o risco da aventura
pela reeleição certa em São Paulo.
Nada disso procede, segundo a
avaliação tucana. Serra cumprirá
sua sentença. Primeiro, porque é a
sua vez; segundo, porque não abriu
espaço para que o partido pudesse
preparar Aécio Neves -e agora seria tarde. As chances de Serra, porém, estão e estarão intimamente
ligadas a Aécio e a Minas Gerais, onde a eleição pode ser decidida.
O Estado de Aécio -segundo
maior colégio do país- concentra
quase 11% do eleitorado nacional.
Nas últimas duas eleições, Lula impôs derrotas humilhantes aos tucanos em Minas: 66,4% a 33,6% dos
votos contra Serra (2002); 65,2% a
34,8% contra Alckmin (2006).
Mais do que ser bem tratado por
Serra, Aécio desta vez precisará
convencer o eleitor mineiro a votar
no seu candidato -no caso, um tucano paulista que lhe terá roubado a
chance de concorrer à vaga de Lula.
É por conhecer as sutilezas desse
café com leite que FHC trabalha na
cozinha da sucessão para que Aécio
possa ser o vice de Serra -o que, ele
sabe, só poderá vir a ocorrer se, em
meados de 2010, quando se definem as chapas, os tucanos tiverem
chances mais do que razoáveis de
derrotar o filho (ou a filha) de Lula.
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