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VINICIUS TORRES FREIRE
História oficial e Diretas-Já!
SÃO PAULO - Faz 20 anos que começou o maior movimento político de
rua no Brasil, as manifestações pelas
Diretas-Já. Tanto tempo. O bastante
para que memórias fracas e a história oficial desbotem a cor e a vida do
conflito social daqueles dias.
Mais e mais parece, ou querem fazer parecer, que num momento qualquer dos anos 80 o povo foi tomado
de súbitos desejos democráticos, ou
que tal anseio foi instilado no povo
pelos grandes timoneiros da liberdade -Ulysses, Tancredo, Montoro,
FHC. Hoje em dia, até mesmo Lula
da Silva é história oficial.
Quem se lembra de 1983? O Brasil
havia quebrado de vez, dera calote
na dívida. Os governadores de oposição eleitos em 1982 assumiram nove
Estados. Em São Paulo, havia saques
de famintos, gente acampada em
praças. A turba quis invadir o palácio
do governador Montoro, da futura
facção tucana do PMDB. Acusaram
o PT e "comunistas" pelo tumulto. O
PT tinha oito deputados federais.
Três anos de recessão fizeram a renda média do brasileiro cair mais de
12% ao final de 1983, a maior recessão do século 20 no Brasil. A inflação,
de quase 100% ao ano em 1982, mais
que dobrara em 1983.
Desde 1978, professores, bancários e
os metalúrgicos de Lula da Silva enfrentavam à luz do dia a ditadura
moderada dos generais Geisel e Figueiredo. Queriam recuperar os salários arrochados por Roberto Campos
e Delfim Netto, ter direitos políticos.
A CUT foi fundada em 1983. O PDS,
ex-Arena, partido da ditadura, rachou em julho, por causa de Paulo
Maluf e espertezas. Os oportunistas
que pularam do barco que afundava
fundaram o PFL.
"O país está no ponto da ruptura
social, que só pode ser evitada com o
rompimento com o FMI. Esta é uma
exigência do PMDB, assim como a
eleição do próximo presidente pelo
povo", dizia o FHC de 1983. Havia escândalos financeiros, como o da Delfin, a maior poupança privada do
país ("neste Natal/ lembre-se de mim/
dê para quem ama/ um cofrinho da
Delfin", dizia a música da propaganda). E o país entrou numa crise da
qual não saiu até hoje.
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