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São Paulo, segunda-feira, 17 de novembro de 2003

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VINICIUS TORRES FREIRE

História oficial e Diretas-Já!

SÃO PAULO - Faz 20 anos que começou o maior movimento político de rua no Brasil, as manifestações pelas Diretas-Já. Tanto tempo. O bastante para que memórias fracas e a história oficial desbotem a cor e a vida do conflito social daqueles dias.
Mais e mais parece, ou querem fazer parecer, que num momento qualquer dos anos 80 o povo foi tomado de súbitos desejos democráticos, ou que tal anseio foi instilado no povo pelos grandes timoneiros da liberdade -Ulysses, Tancredo, Montoro, FHC. Hoje em dia, até mesmo Lula da Silva é história oficial.
Quem se lembra de 1983? O Brasil havia quebrado de vez, dera calote na dívida. Os governadores de oposição eleitos em 1982 assumiram nove Estados. Em São Paulo, havia saques de famintos, gente acampada em praças. A turba quis invadir o palácio do governador Montoro, da futura facção tucana do PMDB. Acusaram o PT e "comunistas" pelo tumulto. O PT tinha oito deputados federais.
Três anos de recessão fizeram a renda média do brasileiro cair mais de 12% ao final de 1983, a maior recessão do século 20 no Brasil. A inflação, de quase 100% ao ano em 1982, mais que dobrara em 1983.
Desde 1978, professores, bancários e os metalúrgicos de Lula da Silva enfrentavam à luz do dia a ditadura moderada dos generais Geisel e Figueiredo. Queriam recuperar os salários arrochados por Roberto Campos e Delfim Netto, ter direitos políticos.
A CUT foi fundada em 1983. O PDS, ex-Arena, partido da ditadura, rachou em julho, por causa de Paulo Maluf e espertezas. Os oportunistas que pularam do barco que afundava fundaram o PFL.
"O país está no ponto da ruptura social, que só pode ser evitada com o rompimento com o FMI. Esta é uma exigência do PMDB, assim como a eleição do próximo presidente pelo povo", dizia o FHC de 1983. Havia escândalos financeiros, como o da Delfin, a maior poupança privada do país ("neste Natal/ lembre-se de mim/ dê para quem ama/ um cofrinho da Delfin", dizia a música da propaganda). E o país entrou numa crise da qual não saiu até hoje.


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