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CARLOS HEITOR CONY
Voltando a um tema
RIO DE JANEIRO - O tema talvez
esteja superado. Durante semanas,
na seção das cartas dos leitores, discutiu-se a retirada dos crucifixos
das salas de aulas dos colégios públicos, bem como dos tribunais e de
outras repartições do Estado. O argumento principal, lembrado por
todos os que defendiam a retirada,
foi o constrangimento daqueles
que, professando outras religiões
ou não professando religião nenhuma, são obrigados a conviver com o
símbolo maior de outra religião,
não importa que seja a religião da
maioria.
O argumento procede, uma vez
que respeita o mesmo crucifixo nas
salas e dependências de escolas e
instituições cristãs, tal como nas sinagogas e instituições judaicas é
natural o uso de símbolos como a
estrela de Davi e a menorá -que,
por sinal, é usada também em templos cristãos. O Estado é leigo, mas
é essencialmente democrático.
Até aqui, estou falando do assunto que ocupou o noticiário há pouco. Tudo bem, acho que a discussão
valeu a pena. Temo, porém, que ela
seja estendida ao Cristo Redentor
do nosso Corcovado. Não se trata
exatamente de um símbolo religioso, mas de um monumento que se
instalou numa paisagem que não
permitiria, por exemplo, um crucifixo, nem mesmo uma simples cruz.
É apenas um gigantesco homem
de braços abertos sobre a Guanabara, num gesto de quem acolhe, protege e abraça. Não constrange o
praticante de outros cultos. Quando o cardeal Leme pensou na estátua, recusou propostas de um Cristo Rei, um rei no trono do mundo.
Preferiu o gesto largo de um homem colossal, abrigando outros.
A estátua, em si, é feia, mas no lugar em que a botaram ficou perfeita,
ela e o assombroso pedestal de pedra. Não se trata de um símbolo religioso, mas de um marco na paisagem que nos faz sentir em casa.
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