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CARLOS HEITOR CONY
Cultura e esporte
RIO DE JANEIRO - Não venho
acompanhando em detalhes a saia
justa entre o pessoal da cultura, notadamente do cinema e do teatro,
com o pessoal do esporte. Alguns
setores da sociedade acham descabida a obrigação do Estado de sustentar ou apenas apoiar iniciativas
culturais e esportivas.
Em tese, são manifestações que
deveriam ser auto-sustentáveis, vivendo os esportes das bilheterias
dos estádios e ginásios, o teatro e o
cinema das respectivas bilheterias.
Os altos custos tornam inviáveis a
produção e a exibição de grandes
realizações tanto num como noutro
setor. De pires na mão, eles vão ao
mercado em busca de patrocínios
que, no fundo, serão bancados pelo
Estado, que aceitará a renúncia fiscal em nome dos espetáculos: o pão
e o circo custam caro.
Sempre foi assim: a arte (o esporte não deixa de ser uma manifestação de arte) foi patrocinada pelos
príncipes da Renascença e por
grandes empresas que se beneficiavam da citada renúncia fiscal. A Renascença toda nasceu e frutificou
graças ao apoio dos Médicis e dos
papas, bastando citar Lorenzo, o
Magnífico, e o papa Julio 2º.
Não teríamos os afrescos da Capela Sistina se não fosse a obstinação do papa em subjugar Michelangelo, obrigando-o a trabalhar dia e
noite, esquecendo-se inclusive de
pagar o preço combinado pela encomenda. Mais tarde houve a parceria de Luis da Baviera com Wagner e a estranha relação de Mozart
com os príncipes-arcebispos de
Salzburg, chegando a ponto de comer na mesa dos empregados e de
ter levado, de um deles, um chute
no traseiro.
Não estou insinuando que Lula
dê um chute no Barretão ou na Fernanda Montenegro. Pelo contrário,
o governo tem obrigação de atender
ambas as partes, a cultura e o esporte, ajudando a criar os valores que
formam e sustentam uma nação.
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