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Democratização do acesso à arte
MANOEL FRANCISCO PIRES DA COSTA
Temos desenvolvido políticas no sentido de aproximar cada vez mais a Bienal das camadas menos favorecidas da população
A DISPUTA por recursos para a
realização de mostras de arte
com qualidade e amplo alcance
impõe ao administrador de instituição cultural um grau cada vez mais
elevado de agilidade e transparência.
É preciso estabelecer novos níveis
de entendimento entre iniciativa privada, instituições culturais e governo.
Os investimentos em cultura e educação são fundamentais em uma sociedade como a nossa, marcada por profundas desigualdades.
Hoje, os empresários, de uma maneira geral, estão mais preocupados
com a qualidade do apoio e dos serviços que prestam à sociedade e menos
com sua visibilidade. Do lado do Estado, que auxilia na manutenção de inúmeras instituições culturais, nunca
foi tão verdadeira a máxima de que
governar é administrar escassez.
O país possui um aparato cultural
de primeira grandeza, instituições reconhecidas, nomes construídos a partir dos serviços prestados à população. A iniciativa privada tem adotado
medidas louváveis no sentido de investir em ações educativas e culturais.
Como os recursos escoam para essas
atividades? As empresas criam departamentos, em muitos casos, organizações, ou os repassam a ONGs.
As iniciativas do setor privado são
bem-vindas e poderiam ter excelentes resultados e menor custo se fossem realizadas por meio de parcerias
com instituições já existentes, que,
assim, não correriam risco de atrofia,
mas de fortalecimento por meio do
desenvolvimento consistente e auto-sustentável ao longo do tempo.
Do ponto de vista do Estado, um foco melhor nas leis de incentivo poderia auxiliar numa aproximação maior
e mais equilibrada entre as empresas
privadas e nossas instituições culturais. A estas caberia maior abertura e
transparência de suas estruturas.
O momento histórico, conforme
demonstram os dados de institutos
como o IBGE, aponta para a ascensão
das camadas menos privilegiadas da
população. Esse avanço pode ocorrer
pela ponta econômica, mas não se
realiza sem cultura.
Há quatro anos, a Fundação Bienal,
com o apoio da diretoria e do conselho da instituição, vem adotando medidas no sentido de buscar uma situação diferenciada. Tem tido agilidade,
competência e transparência. Do
ponto de vista administrativo, ela está
profissionalizada, e seu modelo de
gestão é austero.
Quanto à posição da Bienal como
difusora de cultura, temos desenvolvido políticas no sentido de aproximá-la cada vez mais das camadas menos favorecidas da população.
Em linha com o Ministério da Cultura, adotamos programas de democratização do acesso à arte e ao conhecimento. Em 2003, com o Instituto de
Arquitetos do Brasil, realizamos uma
bienal voltada para a população. Cresceu o número de visitantes, boa parte,
de não-arquitetos -um de nossos objetivos-, e, por meio de palestra internacional e de concurso, realizado
com a iniciativa privada, revelamos
valores da arquitetura nacional.
Em 2004, quando da preparação da
26ª Bienal de São Paulo, aprofundamos esse conceito e tornamos a entrada gratuita. A visitação chegou a
mais de 900 mil pessoas. Durante a
exposição, em parceria com a Secretaria do Trabalho, realizamos oficinas
e capacitamos cerca de 50 jovens na
arte da montagem de exposições.
Neste ano, resolvemos avançar
mais. Partimos para a escolha de um
projeto, e não de nomes, para a curadoria. Abri mão do direito estatutário
de o presidente definir o nome do curador. Foi instituída uma comissão,
ampliada com a participação de personalidades internacionais, que, após
avaliar as propostas, escolheu o projeto da Lisette Lagnado, "Como Viver
Junto". Nossa curadora estruturou a
mostra com a ajuda de co-curadores e
com os profissionais da Bienal.
A 27ª Bienal de São Paulo, que termina hoje, foi iniciada em janeiro,
com a realização de seminários internacionais e, paralelamente, com o
treinamento dos monitores, fruto de
uma parceria de sucesso com a Faap.
Em linha com nossa política de democratizar o acesso à arte e ao conhecimento, a Fundação Bienal foi buscar Denise Grinspum, que criou um
projeto educacional voltado para
duas frentes: a escolar e a de resgate
da cidadania e inclusão social. Resultado: agendamento de cerca de 100
mil visitas de estudantes das redes
pública e privada.
No plano escolar, treinamos professores e produzimos material didático que foi distribuído para os educadores. No plano da inclusão social, dividimos a cidade em áreas e realizamos trabalhos com lideranças comunitárias. Os moradores foram preparados pelos seus iguais para a visita
que fizeram à mostra.
Um sucesso para a Bienal, ainda
aquém das necessidades do país, que
são muito grandes. Mas um grande
feito da nossa instituição.
MANOEL FRANCISCO PIRES DA COSTA, 68, é presidente da Fundação Bienal de São Paulo.
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