São Paulo, segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

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Um convite à boa educação

MARIA HELENA GUIMARÃES DE CASTRO


SP, pela 1ª vez na história da educação brasileira, tomará a iniciativa de dedicar os 42 dias iniciais do calendário à recuperação de aprendizado


HOJE RECOMEÇAM as aulas em todas as escolas estaduais de São Paulo. Trata-se da maior rede do Brasil, presente nas 645 cidades paulistas, com 5.500 escolas e 300 mil funcionários, entre eles 250 mil professores. São 5 milhões de estudantes. Os números impressionam até mesmo os mais experientes gestores, do segmento público ou privado, educacional ou não.
Nesse universo de números gigantescos é que São Paulo, pela primeira vez na história da educação brasileira, tomará a iniciativa de dedicar os 42 dias iniciais do calendário letivo à recuperação de aprendizagem. Nas primeiras seis semanas do ano letivo, as escolas estaduais já começam com atenção especial a duas disciplinas, essenciais para o futuro dos alunos: matemática e língua portuguesa. Os 3,6 milhões de alunos de 5ª a 8ª séries e do ensino médio participarão. Como tudo em São Paulo, não é uma simples ação. Envolve 160 mil professores e 4.200 escolas estaduais.
Ao adotar essa medida, a Secretaria de Estado da Educação tem a certeza de estar cumprindo sua função de subsidiar as escolas com uma proposta para aprimorar competências imprescindíveis. Com matemática, leitura e escrita aprimoradas, os estudantes ganham estruturas de compreensão e intelecção de textos e para operações lógico-matemáticas. As habilidades permitem que haja prosseguimento no aprendizado, que ciências, geografia, enfim, outras áreas, se tornem fonte de conhecimento.
Alunos e educadores terão dois tipos de material: o "Jornal do Aluno" e a "Revista do Professor". O jornal contém atividades didáticas interessantes, que atraem os estudantes. Será o companheiro dos alunos nestes 42 dias. O material didático para os professores, a revista, traz 784 páginas de indicativos para os educadores.
A secretaria capacitou professores, supervisores, assistentes técnico-pedagógicos e diretores. Esse time terá o objetivo de reforçar matemática e língua portuguesa, mas sem abandonar os conteúdos obrigatórios. Por exemplo, as aulas de história darão ênfase à leitura e à interpretação de textos dos conteúdos previstos no currículo. As aulas de geografia abordarão seus conteúdos com ênfase em gráficos e estatísticas. Todas as disciplinas terão este enfoque.
As mudanças não param por aí. Seguida à recuperação intensiva, a secretaria implantará a nova proposta curricular para 5ª a 8ª séries e ensino médio. Os professores terão base curricular comum para o ensino em sala de aula. Terão um guia seguro com indicações e sugestões de trabalho. Para cada aula haverá indicação do que os alunos precisam aprender. Essa proposta curricular contou com a participação de toda a rede, com 3.000 idéias.
Essa ação é fundamental porque o professor de escola pública no Brasil, de modo geral, enfrenta seus desafios cotidianos sem uma referência mínima na qual se mirar. Poucos Estados brasileiros dispõem para oferecer às escolas esse material, no qual estejam incluídos os assuntos a serem abordados em cada disciplina em detalhes. A experiência mostra que professores com um apoio didático dessa natureza vão mais longe em sala de aula. Investir na organização estruturada de um currículo, como fizeram alguns países bem-sucedidos na educação, é fundamental.
A atenção aos alunos de 5ª a 8ª série e de ensino médio não tirou do governo do Estado a preocupação com a base, com a 1ª a 4ª série. São Paulo amplia neste ano o projeto Ler e Escrever, que, como meta principal, traz a obsessão em alfabetizar todos alunos com até oito anos. Queremos que até 2010 não haja criança com oito anos de idade sem saber ler e escrever.
Também com materiais estruturados, recuperação de estudantes em dificuldade e um professor auxiliar nas salas de 1ª série, ao lado do professor titular, vamos preparar nossas crianças para uma continuação escolar mais segura, com o aprendizado em dia.
O primeiro passo foi dado. O sucesso dessa iniciativa, a partir de hoje, depende do interesse e da vontade de todos os participantes -pais, professores, diretores e alunos- em fazer dar certo. Esses são os principais protagonistas da educação paulista. O convite está feito. Desejamos um excelente ano de trabalho a todos os nossos professores e alunos.


MARIA HELENA GUIMARÃES DE CASTRO , 61, é professora da Unicamp e secretária Estadual de Educação. Foi secretária-executiva do Ministério da Educação e presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais).

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