São Paulo, quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

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TENDÊNCIAS/DEBATES

OS do esporte

WALTER FELDMAN E ANA MOSER


O esporte educacional desenvolve valores como a solidariedade, o respeito ao próximo e às regras, a tolerância, a cooperação

TALVEZ VOCÊ ainda não saiba, mas a primeira organização social (OS) credenciada para administrar equipamentos esportivos da prefeitura já está funcionando. Assim como acontece na saúde, a OS do esporte veio para melhorar a vida de todos os paulistanos, mas não pode ser compreendida como um atalho. É, sim, a abertura de uma grande avenida, que vai melhorar o fluxo, mas também tornará o caminho mais seguro, com regras claras, metas definidas e fiscalização rígida e constante.
Esse trabalho já vem sendo desenvolvido em três clubes desportivos da comunidade (CDCs) na região de Ermelino Matarazzo, que foram reformados e estão sob responsabilidade do Instituto Esporte e Educação. A partir dessas atividades serão produzidos indicadores para avaliar o desenvolvimento do programa de metas previsto e, consequentemente, o desenvolvimento geral do bairro.
O contrato tem três anos de duração e, dependendo dos resultados, poderá ser estendido para os outros seis equipamentos esportivos da região -e, no futuro, para toda a cidade. O conceito-base de todo o projeto é o esporte educacional. A ideia é mudar não só a aparência dos clubes em Ermelino Matarazzo mas principalmente os indicadores sociais: educação, saúde e até a segurança do local.
E o que é esporte educacional? É usar a atividade física como ferramenta de inclusão, de cidadania e de participação. A OS do esporte vai ensinar esporte de três maneiras distintas: 1) Ensinar para todos, com a participação e inclusão de qualquer um, independentemente de potenciais e de limitações individuais; 2) Ensinar bem, para que qualquer um aprenda a praticar esporte com competência técnica e tática; 3) Ensinar de forma que os alunos se apropriem de conhecimentos nas áreas de saúde, cultura, cidadania e comunidade.
A tarefa de ensinar esporte dessas três maneiras não é para treinadores.
É para educadores, que têm a função de mediar um processo movido à base do respeito, da troca de experiências e do incentivo à ação. O resultado é a formação de indivíduos autônomos, críticos, conscientes e, sobretudo, independentes.
O esporte trabalhado na dimensão educacional desenvolve valores essenciais, ultimamente esquecidos em nossa sociedade, como a solidariedade, o respeito ao próximo e às regras, a tolerância, o sentido coletivo e a cooperação. O esporte educacional cria oportunidades para o aluno desenvolver estratégias, resolver problemas e enfrentar a vida em sociedade.
O que pretendemos é inaugurar e aperfeiçoar um novo modelo de gestão, científico e moderno. Queremos unir esporte e educação para cumprir uma tarefa impensável para o Estado: universalizar o atendimento e a oferta de esporte, lazer, recreação, educação, saúde e cultura.
O envolvimento da comunidade é fundamental. A experiência da Secretaria de Esportes e do Instituto Esporte Educação mostra que o esporte como ferramenta de desenvolvimento local é sustentável e funciona como uma bolha de oxigênio para comunidades socialmente doentes. Se a comunidade recebe o esporte com competência, responde participando, aprendendo, evoluindo, num ciclo vicioso que só traz o bem. Cidadãos mais bem preparados rendem mais em qualquer atividade. E a OS do esporte é uma nova maneira de educar.
O país se prepara para gastar bilhões na organização dos dois maiores eventos do planeta, a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos. Se o olhar de nossos governantes estiver atento, o modelo de OS do esporte pode ser replicado em todas as sedes e subsedes desses eventos, aproveitando estruturas construídas de forma sustentável e evitando o aparecimento de grandes elefantes brancos. Seria a melhor maneira de garantir um legado de crescimento e desenvolvimento que vai beneficiar toda a sociedade, durante muito tempo.
Grandes estádios, medalhas de ouro e glórias olímpicas não podem ser objetivos na preparação para a Copa do Mundo e para a Olimpíada. Devem ser resultado, consequência de um planejamento eficiente e inteligente, que dê frutos a médio e longo prazos.
Só assim contribuiremos para o desenvolvimento pessoal do cidadão e do país como um todo.
Com a OS do esporte, essa avenida começa a ser aberta."


ANA MOSER , 42, ex-jogadora de vôlei, é fundadora do Instituto Esporte Educação.
WALTER FELDMAN , 56, médico, deputado federal (PSDB) licenciado, é secretário municipal de Esportes, Lazer e Recreação de São Paulo.

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