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CLÓVIS ROSSI
Collor-2010
SÃO PAULO - Fernando Collor de
Mello parecia uma anomalia na política brasileira. Afinal, conseguiu a
extraordinária proeza de ser o único presidente, na indecorosa história da República, a ser punido por
falta de decoro.
Na quinta, o indecoroso que já
não o é, segundo seus pares, foi reverenciado pelos virtuosos que
nunca o foram, mas fingiam sê-lo.
A começar pelo PT, seu mais implacável adversário até anteontem,
que silenciou sobre tudo o que Collor simboliza. Ajuda-memória,
complementar ao belo artigo do
historiador Marco Antonio Villa
publicado ontem por esta Folha:
Collor é a Casa da Dinda e seu fausto de república bananeira; é a Operação Uruguai e a entronização do
caixa dois; é PC Farias e seus negócios escusos à sombra do poder e
sua morte até hoje inexplicada, o
que leva à inescapável suspeita de
queima de arquivo.
No campo administrativo, Collor
é o confisco da poupança e de ativos
financeiros e também dois anos de
recessão em três de gestão.
Como é possível silenciar diante
de tamanha esculhambação? Simples: os dois partidos que se revezam no poder no pós-Collor mantiveram a esculhambação no mais alto do pódio.
O pós-Collor é a compra de votos
para aprovar a emenda da reeleição, é conduzir suculentas privatizações "no limite da irresponsabilidade", é o mensalão, são os sanguessugas, é Waldomiro Diniz, é a
quebra do sigilo bancário de uma
testemunha potencialmente incômoda para uma alta autoridade (extremo, aliás, a que não chegaram os
"colloridos").
Tudo somado, tem-se que, em
vez de anomalia, Fernando Collor
de Mello é o político-padrão da pátria, se me perdoam os poucos que
fogem do padrão.
Dá um bom candidato para 2010.
Já está mesmo na base governista,
com o PTB, e como se viu, tem a
simpatia do PSDB e do PFL.
crossi@uol.com.br
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