São Paulo, quarta, 18 de março de 1998

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Atenção, caipiras

CLÓVIS ROSSI
San José (Costa Rica) - O Diário Oficial da União circulou, no dia 19 de janeiro, com um insólito "Aviso Importante" da Camex (Câmara de Comércio Exterior): pedia sugestões e contribuições do público em geral para as negociações em torno da Alca (Área de Livre Comércio das Américas).
A consequência foi igualmente insólita: surgiram mesmo contribuições, até de pequenas e médias empresas e de entidades de defesa do consumidor.
Parece um desmentido a tese do presidente Fernando Henrique Cardoso de que o brasileiro é "caipira", ou seja, não está ligado a questões externas.
Ainda acho que o presidente tem razão. Mas o Itamaraty parece sinceramente empenhado em mudar a situação. Tanto que propôs, na Conferência Ministerial da Alca, em andamento na Costa Rica, a constituição de um Foro Consultivo Econômico e Social, como parte integrante da estrutura das negociações.
Ou seja, quer introduzir empresários e sindicalistas, a sociedade organizada, enfim, diretamente na sala de negociações, em vez de confiná-los, como até agora, na sala ao lado.
O diabo nessa história é que, consultado, o sindicalismo brasileiro pediu tempo para unificar suas próprias posições, entre CUT, CGT e Força Sindical.
Consequência lamentável: se há representação sindical brasileira na Costa Rica, não se percebe nem "na sala ao lado".
Há, sim, quase 100 empresários, mobilizados, organizados e informados de uma forma pouco comum no Brasil, a ponto de rivalizar com os norte-americanos, guardadas as proporções da riqueza de uns e de outros, como é óbvio.
Desnecessário dizer que a Alca, se e quando vier a ser criada, terá portentosos efeitos na vida de cada um dos brasileiros, distraídos ou não, empresários ou sindicalistas.
A tal de globalização não vai ficar esperando CUT, CGT e Força resolverem suas pendências internas.



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