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USUÁRIO SEM PENA
É acertada a proposta do Ministério da Saúde de modificar a
legislação vigente para que usuários
de drogas ilícitas deixem de ser considerados criminosos.
Do ponto de vista sanitário, é contraproducente tratar o consumidor
como um caso de polícia. O fato de
as drogas serem proibidas faz com
que os dependentes procurem se
ocultar, deixando, por exemplo, de
procurar tratamento. A ilegalidade
também dificulta a implementação
de políticas públicas de redução de
danos, como a troca de seringas para
evitar a contaminação por doenças
como Aids e hepatites.
É importante que as observações
do Ministério da Saúde sejam levadas
em conta na elaboração da próxima
versão da Pnad (Política Nacional
Antidrogas). Em sua edição atual,
elaborada no governo do presidente
Fernando Henrique Cardoso, a Pnad
opera com conceitos bastante controversos, como a idéia de que a repressão é capaz de evitar a utilização
de entorpecentes ou a noção de "Justiça terapêutica", que os norte-americanos querem impor ao mundo.
Não faz sentido a idéia de condenar
o usuário de drogas a se submeter a
tratamento para dependência química. Assim como nem todo mundo
que toma um copo de vinho é alcoólatra, nem todo consumidor de maconha ou cocaína é dependente.
Ademais, sabe-se que o pré-requisito básico para o sucesso de terapias
contra a dependência é a adesão sincera do paciente. Sem que esteja disposto a abandonar o vício, submetê-lo a tratamento significa desperdiçar
energias e jogar recursos fora.
A tese, por muitos repetida, de que
a descriminação leva à legalização
não necessariamente procede. É até
possível que, num futuro longínquo,
a sociedade brasileira opte pela legalização plena das drogas, mas isso
ocorrerá se e quando o Congresso
Nacional decidir.
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