|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
Anistia não é prêmio
SÃO PAULO - Mesmo na improvável hipótese de que o delegado Aparecido
Laertes Calandra não seja o torturador "capitão Ubirajara", o governador Geraldo Alckmin não merece
perdão pela defesa que fez da nomeação do torturador para um posto importante no aparelho policial.
Diz o governador que Calandra foi
anistiado. É verdade, mas não é o
que está em causa. Ninguém está pedindo que o policial seja preso e torturado, ao contrário do que fez com
suas vítimas, aliás.
O que se está pedindo é que torturadores não sejam premiados, pela simples e boa razão de que "tortura e decência jamais podem andar juntas",
como escreveu a leitora Simone Marques para o "Painel do Leitor".
Ou, como escreveu o ex-ministro da
Justiça José Carlos Dias, "uma coisa é
não puni-lo, outra coisa é premiá-lo,
dando um cargo de tanta responsabilidade como dirigir o Departamento
de Inteligência da Polícia Civil".
É eloquente, aliás, a defesa que fez
do delegado-torturador o ex-delegado e agora senador Romeu Tuma
(PFL-SP), outro que conviveu sem remorsos com os "porões".
Tuma acha que Alckmin fez bem
em manter a nomeação de Calandra,
porque mostraria que "o país vive
um momento diferenciado, de harmonia e respeito a todos aqueles que
produzem e trabalham".
O que o delegado-senador quer dizer com essa frase fica sujeito a interpretações variadas. Pode dar a entender que, no tempo em que Calandra
exercia seu papel de torturador, não
havia nem harmonia nem respeito
"aos que produzem e trabalham".
Nem por isso, conhece-se uma única
palavra de protesto de Tuma contra
essa situação.
Aliás, respeito a todos aqueles que
produzem e trabalham deveria ser
uma característica constante do poder público e de seus ocupantes. Logo
não há razão para tentar justificar
uma premiação absurda com esse argumento igualmente absurdo.
O que só demonstra que aberrações
ou são revogadas, ou a tentativa de
justificá-las acaba sendo igualmente
aberrante.
Texto Anterior: Editoriais: USUÁRIO SEM PENA Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: Muy amigos! Índice
|