São Paulo, domingo, 18 de abril de 2010

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CLÓVIS ROSSI

O Bric e a fraude

SÃO PAULO - O grupo BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) cobrou pela enésima vez, na cúpula de quinta-feira, em Brasília, a reforma da governança global. Justo, muito justo. Mas deveria começar pela própria sigla.
Trata-se de uma invenção da Goldman Sachs, essa empresa que agora está sendo investigada nos Estados Unidos por suspeita de fraude com um dos incontáveis mecanismos opacos de investimento que os corsários do sistema financeiro criaram nos últimos anos e foram em boa medida responsáveis pela crise global.
Em 2001, um economista do grupo decretou que os quatro países logo seriam potências mundiais. Não estou dizendo que é uma fraude, mas a própria Goldman Sachs, ao se defender agora, produziu um argumento que se aplica perfeitamente ao Bric.
Disse que "certamente" não sabia se o valor dos instrumentos que vendeu "iria subir ou cair".
O acrônimo Bric era também um instrumento vendido pela firma: destinava-se a projetar um futuro radioso para tais países de forma a atrair investimentos.
Tanto no Bric como no CDO (o instrumento usado na suposta fraude) aplica-se idêntico raciocínio: não dá para saber se o valor deles vai subir ou cair.
Não obstante, os governos dos quatro países "compraram" o instrumento e criaram o primeiro grupo de países que não tem origem político-diplomática, mas é fruto de uma invenção de um dos banqueiros de olhos azuis que o presidente de um dos quatro culpou pela crise.
Tudo somado, parece claro que, se é necessário reformular a governança global -e é-, um bom começo seria barrar a possibilidade de a pátria financeira decidir quem deve subir e quem deve cair (a Goldman Sachs está envolvida também na fraude que facilitou à Grécia endividar-se demais).

crossi@uol.com.br


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