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CLÓVIS ROSSI
O Bric e a fraude
SÃO PAULO - O grupo BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) cobrou
pela enésima vez, na cúpula de
quinta-feira, em Brasília, a reforma
da governança global. Justo, muito
justo. Mas deveria começar pela
própria sigla.
Trata-se de uma invenção da
Goldman Sachs, essa empresa que
agora está sendo investigada nos
Estados Unidos por suspeita de
fraude com um dos incontáveis mecanismos opacos de investimento
que os corsários do sistema financeiro criaram nos últimos anos e foram em boa medida responsáveis
pela crise global.
Em 2001, um economista do grupo decretou que os quatro países logo seriam potências mundiais. Não
estou dizendo que é uma fraude,
mas a própria Goldman Sachs, ao se
defender agora, produziu um argumento que se aplica perfeitamente
ao Bric.
Disse que "certamente" não sabia
se o valor dos instrumentos que
vendeu "iria subir ou cair".
O acrônimo Bric era também um
instrumento vendido pela firma:
destinava-se a projetar um futuro
radioso para tais países de forma a
atrair investimentos.
Tanto no Bric como no CDO (o
instrumento usado na suposta
fraude) aplica-se idêntico raciocínio: não dá para saber se o valor deles vai subir ou cair.
Não obstante, os governos dos
quatro países "compraram" o instrumento e criaram o primeiro grupo de países que não tem origem
político-diplomática, mas é fruto de
uma invenção de um dos banqueiros de olhos azuis que o presidente
de um dos quatro culpou pela crise.
Tudo somado, parece claro que,
se é necessário reformular a governança global -e é-, um bom começo seria barrar a possibilidade de a
pátria financeira decidir quem deve
subir e quem deve cair (a Goldman
Sachs está envolvida também na
fraude que facilitou à Grécia endividar-se demais).
crossi@uol.com.br
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