São Paulo, sábado, 18 de maio de 2002

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OMISSÃO FATAL

Demorou, mas finalmente aconteceu: o clima de união nacional que havia nos EUA em torno do presidente George W. Bush após o 11 de setembro começa a ruir.
O fator que provocou a mudança foi a divulgação, pela rede de TV CBS, de que o presidente foi informado pela CIA, em 6 de agosto, de que Osama bin Laden planejava sequestrar aviões comerciais nos EUA.
A Casa Branca confirmou que Bush teve acesso à informação, mas afirma que não se tratava de um alerta específico. Diz que não havia indícios de que os aviões seriam usados como armas nem indicações de "data, local ou método de ataque".
Políticos, imprensa e população agora se perguntam, com razão, se o governo poderia ter agido melhor do que atuou. Se deveria, por exemplo, ter alertado as companhias aéreas e até o público de que havia uma ameaça à segurança dos vôos.
A sensação de que houve falhas é reforçada por um outro memorando, este de um agente do FBI do Arizona, elaborado em julho, que levantava suspeitas sobre o grande número de árabes que frequentavam escolas de aviação nos EUA.
Bush enfrenta sua primeira grande crise interna desde o 11 de setembro. Alguns analistas já traçam paralelos com os casos Watergate, que derrubou Richard Nixon da Presidência em 1974, e Monica Lewinsky, que quase custou o cargo a Bill Clinton.
As críticas a Bush não se devem tanto ao fato de ele não ter conseguido evitar os ataques, mas principalmente por ele não ter revelado a existência dos memorandos mesmo depois dos atentados. Segundo alguns, quis até escondê-los.
O presidente tem razão ao afirmar que as acusações têm caráter eleitoral. Em novembro, parte do Congresso será renovada, e os democratas, que ambicionam retomar o controle da Câmara, precisam pôr um fim ao clima de unanimidade que vinha dominando a cena política desde o 11 de setembro. Na verdade, é até surpreendente que políticos de oposição e jornalistas tenham levado oito meses para recobrar-se dos ataques e começar a questionar atos da administração Bush.


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