São Paulo, sábado, 18 de maio de 2002

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CLÓVIS ROSSI

Falando sozinho

MADRI - O primeiro-ministro britânico Tony Blair disse ontem ao presidente Fernando Henrique Cardoso que a próxima reunião do movimento chamado Terceira Via se dará no ano que vem, no Reino Unido.
Aproveitou para ironizar: "Temo que vá ser uma reunião apenas comigo mesmo".
Talvez não seja ironia, mas adequada descrição da realidade. A Terceira Via (agora rebatizada para "Governança Progressista") foi inspirada pelo sociólogo Anthony Giddens, hoje reitor da London School of Economics, e comprada por Blair, para, na sua opinião, modernizar o trabalhismo britânico.
Trata-se de um caminho intermediário entre o liberalismo puro e duro e as tendências estatizantes da velha social-democracia.
Para Blair, deu certo. A bordo do slogan conseguiu derrubar os conservadores do poder depois de 17 anos e reeleger-se há dois anos.
Mas só para Blair. Outros governantes que participaram das reuniões da cúpula da Terceira Via (já foram três) estão sendo varridos do poder um após o outro. O próximo, a julgar pelas pesquisas, será o alemão Gerhard Schröder, que, aliás, também inventou o seu próprio rótulo ("Novo Centro").
Schröder está atrás do conservador democrata-cristão Edmund Stoibe nas pesquisas para a eleição de setembro na Alemanha.
O interlocutor de ontem de Blair, FHC, também deixa o poder em janeiro. Pode até acontecer de o seu candidato, José Serra, se eleger, mas é pouco provável que seja convidado, ao menos de imediato, a participar da quarta cúpula do movimento, no Reino Unido.
Com quem então conversará Blair em 2003? Talvez com o italiano Silvio Berlusconi e com o espanhol José María Aznar, com os quais se sente à vontade, embora ambos sejam conservadores. Mas, enfim, é melhor do que se sentir fundador de uma via em aparente processo de extinção, não é mesmo?


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