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CLÓVIS ROSSI
Falando sozinho
MADRI - O primeiro-ministro britânico Tony Blair disse ontem ao presidente Fernando Henrique Cardoso
que a próxima reunião do movimento chamado Terceira Via se dará no
ano que vem, no Reino Unido.
Aproveitou para ironizar: "Temo
que vá ser uma reunião apenas comigo mesmo".
Talvez não seja ironia, mas adequada descrição da realidade. A Terceira Via (agora rebatizada para
"Governança Progressista") foi inspirada pelo sociólogo Anthony Giddens, hoje reitor da London School of
Economics, e comprada por Blair, para, na sua opinião, modernizar o trabalhismo britânico.
Trata-se de um caminho intermediário entre o liberalismo puro e duro
e as tendências estatizantes da velha
social-democracia.
Para Blair, deu certo. A bordo do
slogan conseguiu derrubar os conservadores do poder depois de 17 anos e
reeleger-se há dois anos.
Mas só para Blair. Outros governantes que participaram das reuniões da cúpula da Terceira Via (já
foram três) estão sendo varridos do
poder um após o outro. O próximo, a
julgar pelas pesquisas, será o alemão
Gerhard Schröder, que, aliás, também inventou o seu próprio rótulo
("Novo Centro").
Schröder está atrás do conservador
democrata-cristão Edmund Stoibe
nas pesquisas para a eleição de setembro na Alemanha.
O interlocutor de ontem de Blair,
FHC, também deixa o poder em janeiro. Pode até acontecer de o seu
candidato, José Serra, se eleger, mas é
pouco provável que seja convidado,
ao menos de imediato, a participar
da quarta cúpula do movimento, no
Reino Unido.
Com quem então conversará Blair
em 2003? Talvez com o italiano Silvio
Berlusconi e com o espanhol José María Aznar, com os quais se sente à
vontade, embora ambos sejam conservadores. Mas, enfim, é melhor do
que se sentir fundador de uma via em
aparente processo de extinção, não é
mesmo?
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