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CARLOS HEITOR CONY
A roupa do rei
RIO DE JANEIRO - Transcrevo nota publicada no ""Painel" da Folha no
último domingo: ""O caso Ricardo
Sérgio assustou o tucanato, criou sérias dificuldades para a campanha
de José Serra, mas, a não ser que o
presidenciável desabe literalmente
nas pesquisas, o Planalto manterá
até o fim a candidatura do ex-ministro da Saúde".
É isso aí. No vale-tudo de uma campanha eleitoral para a Presidência,
os atos e fatos não importam, e sim as
pesquisas, que podem ser manipuladas -e certamente o são- ao sabor
das conveniências dos grupos interessados em manter a atual política econômica do governo, que privilegia o
capital em detrimento do trabalho, o
lucro financeiro em prejuízo do desenvolvimento econômico.
Não importa que o candidato tenha estuprado a mãe, roubado o pai,
chupado o sangue das criancinhas,
violado os vasos sagrados do templo,
profanado sepulturas. O que importa
é a pesquisa, que, de uma forma ou
de outra, condiciona a própria pesquisa.
Na edificante história do rei nu,
não chegou a haver pesquisa, tal como hoje a conhecemos. Todos acreditavam que a roupa do rei era maravilhosa. Impossível duvidar da maioria, que, na realidade, era a unanimidade: a roupa do rei era mesmo
maravilhosa.
Foi preciso que um menino, no colo
da mãe, sem ter recebido nenhuma
influência do pensamento comum
então dominante, descobrisse que a
roupa do rei não era de nada, nem
sequer existia, pois o rei estava nu.
Da mesma forma, ainda que seja
provada a culpabilidade de Serra no
esquema Ricardo Sérgio -que tanto
lembra a dobradinha Collor-PC Farias -, ele continuará candidato do
PSDB, dependendo da contra-ofensiva dos marqueteiros do governo, que
convencerão a plebe de que a roupa
do rei é mesmo maravilhosa.
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