São Paulo, sábado, 18 de maio de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CARLOS HEITOR CONY

A roupa do rei

RIO DE JANEIRO - Transcrevo nota publicada no ""Painel" da Folha no último domingo: ""O caso Ricardo Sérgio assustou o tucanato, criou sérias dificuldades para a campanha de José Serra, mas, a não ser que o presidenciável desabe literalmente nas pesquisas, o Planalto manterá até o fim a candidatura do ex-ministro da Saúde".
É isso aí. No vale-tudo de uma campanha eleitoral para a Presidência, os atos e fatos não importam, e sim as pesquisas, que podem ser manipuladas -e certamente o são- ao sabor das conveniências dos grupos interessados em manter a atual política econômica do governo, que privilegia o capital em detrimento do trabalho, o lucro financeiro em prejuízo do desenvolvimento econômico.
Não importa que o candidato tenha estuprado a mãe, roubado o pai, chupado o sangue das criancinhas, violado os vasos sagrados do templo, profanado sepulturas. O que importa é a pesquisa, que, de uma forma ou de outra, condiciona a própria pesquisa.
Na edificante história do rei nu, não chegou a haver pesquisa, tal como hoje a conhecemos. Todos acreditavam que a roupa do rei era maravilhosa. Impossível duvidar da maioria, que, na realidade, era a unanimidade: a roupa do rei era mesmo maravilhosa.
Foi preciso que um menino, no colo da mãe, sem ter recebido nenhuma influência do pensamento comum então dominante, descobrisse que a roupa do rei não era de nada, nem sequer existia, pois o rei estava nu.
Da mesma forma, ainda que seja provada a culpabilidade de Serra no esquema Ricardo Sérgio -que tanto lembra a dobradinha Collor-PC Farias -, ele continuará candidato do PSDB, dependendo da contra-ofensiva dos marqueteiros do governo, que convencerão a plebe de que a roupa do rei é mesmo maravilhosa.


Texto Anterior: Brasília - Fernando Rodrigues: Um conjunto vazio
Próximo Texto: Luciano Mendes Almeida: A santidade de Madre Paulina
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.