|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TENDÊNCIAS/DEBATES
Proibir a venda de bebida alcoólica em postos de gasolina é uma medida eficaz?
SIM
Controle legislativo
JOOJI HATO
Estudos da OMS (Organização
Mundial da Saúde) mostram que o
consumo de álcool representa 9,7% de
perda em relação a anos de vida ajustado por doenças. Estes mesmos estudos
dão um destaque especial ao álcool, devido ao peso do seu custo social nos países em desenvolvimento. Por suas dimensões, a problemática do álcool tem
sido discutida no mundo inteiro e várias
iniciativas internacionais tem sido tomadas na criação de ações de controle
do consumo do álcool.
Baseada nesses estudos, a OMS fez
uma série de recomendações para a redução do consumo de álcool. São elas:
aumento do preço; diminuição do acesso, através da redução do número de
pontos de venda; regulamentação da
venda; controle da propaganda; rede de
tratamento; e intervenção nas escolas.
Os estudos internacionais mostram
ainda que, quanto maior o número de
pontos de venda de álcool, maior são o
consumo, a violência e os problemas relacionados com o álcool.
Entendemos que o controle legislativo
do consumo de álcool é o mais importante a ser pensado na cidade de São
Paulo. Foi a partir desse entendimento
que colocamos em tramitação na Câmara vários projetos de lei -alguns já
aprovados- que visam atender às recomendações da OMS.
Assim, começamos pela redução do
horário de venda de bebidas alcoólicas,
com a lei 12.879, que regulamenta o horário de funcionamento dos bares, devendo os mesmos fechar no máximo à
1h da manhã, excetuando-se a aplicação
da mesma aos estabelecimentos com
isolamento acústico, segurança e estacionamento. O que, por consequência,
encarecerá o preço do produto, diminuindo ainda mais o consumo.
O segundo projeto de lei aprovado, e
que aguarda o pronunciamento da prefeita Marta Suplicy, é o que proíbe a comercialização de bebidas alcoólicas nas
lojas de conveniência.
Lembramos que não há regulamentação municipal para o funcionamento
dessas lojas. Todas são irregulares. As
leis municipais nš 9.483/82 e nš 10.041/
86 não permitem aos postos o uso misto; assim eles só têm autorização para a
comercialização de acessórios, peças de
emergência, produtos de limpeza para
veículos, gelo, refrigerantes, artigos para
tabacaria e possuir caixas eletrônicos.
Entretanto entendemos que a dinâmica
dessa megalópole tem atropelado o setor legislativo e hoje já são cerca de 500
as lojas de conveniência instaladas em
São Paulo.
O que não podemos admitir é que esses estabelecimentos se transformem
em bares, comercializando bebidas alcóolicas e causando imensos transtornos para os moradores locais.
Não é necessária uma análise profunda para concluirmos que consumo de
bebidas alcoólicas em postos de gasolina é, no mínimo, absurdo, pois estaríamos defendendo o surgimento de verdadeiros bares automotivos, onde os
motoristas param para abastecer seus
veículos, ingerem bebidas alcoólicas e
voltam a dirigir. Estaríamos na contramão de todas as campanhas educativas
sob o slogan "bebidas e volante não
combinam".
Os postos de gasolina são locais inadequados para o consumo de bebidas alcoólicas e incompatíveis com ele, não
possuem infra-estrutura para tal, não
têm autorização para tal e o direito econômico não sobrepuja o direito à qualidade de vida dos moradores locais, que
passam a ter nos postos não mais um
prestador de serviços, mas um perturbador da ordem pública e um tolhedor
de seus direitos elementares, como o de
dormir durante a madrugada.
Além desses dois projetos, já aprovados nesta Casa, seguindo a linha das recomendações da OMS para a redução
do consumo de álcool na sociedade, tramitam ainda o projeto de lei nš 163/02,
que proíbe venda de bebidas alcoólicas
em uma distância mínima de 500 metros de escolas públicas e particulares; o
projeto de lei nš 237/02, que determina
o fechamento dos bares no máximo à
meia-noite; e o projeto nš 280/00, que
proíbe atos de venda, compra e ingestão
de bebidas alcoólicas em locais públicos.
Deixo ainda um breve relato dos tempos em que atuei como médico no
pronto-atendimento da Santa Casa de
Misericórdia de São Paulo, onde as longas madrugadas nos traziam jovens,
muitos deles menores de idade, vítimas
de acidentes de trânsito, de esfaqueamentos, de tiros -a quase totalidade
dos casos provinha de brigas em bares e
"points" juvenis, regadas a muita bebida alcoólica e por motivação torpe.
Vidas perdidas por um esbarrão, um
pisão no pé, uma latinha de cerveja. Este
é valor da vida quando o consumo do
álcool une-se às armas. Como médico e
vereador paulistano, entendo que prevenir o alcoolismo na infância e na adolescência é uma responsabilidade de todos nós e uma questão de cidadania.
Jooji Hato, 52, médico cirurgião geral e pediatra,
formado pela Santa Casa de Misericórdia de São
Paulo, é vereador, pelo PMDB, do município de
São Paulo.
Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Proibir a venda de bebida alcoólica em postos de gasolina é uma medida eficaz? - Não - Sergio Dario Seibel: Precisamos de mais leis? Próximo Texto: Painel do Leitor Índice
|